Obra Ética Nicômaco: os três tipos de vidas

Alisson Rafael Lourenço dos Santos
Licenciando de Filosofia UNISAL
E-mail: alissonsantos14@hotmail.com

          A temática da Ética foi tratada de maneira significativa na sua obra Ética a Nicômaco[1]. Nesta ele afirma que o ser humano vive em função ou do sumo bem, ou do bem aparente, bem este que pode ser desejável por si só ou pelos seus fins. Ele diz que o ser humano, ao realizar uma ação, lida com a realização de duas, ou mais, artes secundarias: as que devem ser feitas e as que não devem ser feitas para atingir seus objetivos. É necessario que o homem tenha discernimento, discernimento este, para o autor, que se adquire através da sabedoria, um conjunto de conhecimentos, que permite que o homem possa julgar corretamente de um modo geral, diferente de um homem que possua um conhecimento, uma ciência especifica. Este homem cientista seria mais capacitado para julgar a causa especifica da qual ele possui conhecimento, e não algo de conhecimento geral. O autor nos dá o exemplo dos jovens que seriam incapazes de serem bons juízes por não terem tido tempo o suficiente para adquirir a Sabedoria. Todavia Aristóteles não descarta o fato de haver anciãos que não possuem a sabedoria.
          O homem, em sua busca pelo sumo bem, procura algo que denomina de eudaimonia, palavra grega que para nós significa ‘felicidade’: mas não é esgotado por esta palavra, por ser um termo próprio e abranger outros aspectos. Poderia ser comparada também com a auto-realização. Aristóteles apresentou o bem em cinco dimensões[2]: o bem enquanto qualidade, visando virtudes; o bem enquanto realização, visando o que é utilidade; o bem enquanto tempo, visando as oportunidades; o bem enquanto espaço, visando o lugar apropriado; e o bem enquanto substância, válido por si mesmo.
          Destes cinco tipos, somente o quinto, na ordem aqui apresentada, seria o que geraria a eudaimonia.
          Para Aristóteles há três tipos de vida[3] que um homem pode levar: a vida vulgar, política e contemplativa.

1 A vida vulgar
          Esta vida para ele é a de um ser humano que teria como objetivo obter os prazeres da vida terrena, e para isso faria o que é necessário, seja correto ou incorreto, para adquirir o “bem” desejado. Aristóteles diz que essas pessoas, que vivem essa vida vulgar, realizam suas ações não pelo bem-estar que elas proporcionam em si, mas sim pelo bem-estar que lhe é proporcionado, gerando assim um ciclo interminável de objetivos, de ações que geram ações, nunca obtendo a eudaimonia.
          Por exemplo[4]: Um jovem estudante do ensino médio passa o domingo à noite trancado em seu quarto estudando matemática. Poderia alguém ir perguntar a ele o porquê dele estar estudando a este horário imaginando que era por este gostar da matéria, por ter um certo prazer ao resolver os cálculos matemáticos. Mas ele responde que estava estudando simplesmente por ter prova no dia seguinte. Poderia também idealizar que ele estudava por ser um aluno aplicado e buscar a nota máxima, mas ele responderá que buscava passar de ano para entrar na faculdade. Poderia imaginar que na faculdade ele se realizaria, mas ao perguntar, este responde que era só o começo, ainda teria que depois arrumar um emprego, ser promovido, fazer um mestrado, doutorado, para poder ganhar mais e outras varias ações para sentir-se realizado. Logo percebe-se que este jovem nunca seria plenamente realizado, pois ele visa um ideal material, e a cada passo que ele dará seria apenas um entre outros vários para chegar-se à “felicidade”.

2 Vida politica
          O homem que se propusera viver tal tipo de vida buscaria as virtudes Morais, mas não com a intenção de ser um homem bom, mas com a intenção de que as pessoas o vejam como alguém bom. Este também não viria a atingir a eudamonia de suas ações, pelo simples fato de não fazer aquilo que é de seu agrado, e sim o que vê ser do agrado de outros, vindo a aspirar e adquirindo virtudes para ser um homem notado socialmente, e não por ver nas virtudes a possibilidade de ter-se uma vida realizada.
          Pode-se usar como exemplo o mesmo jovem, mas consideremos a segunda especulação sobre o seu interesse verdadeiro, como se ele visasse realmente tirar a nota máxima naquela prova, porém o seu interesse continuaria frustrante, pois visaria apenas a nota e o reconhecimento por meio desta, e não o aprendizado por si.

3 Vida contemplativa
          O último modelo de vida apresentado por Aristóteles seria um homem que realizaria aquilo que lhe é agradável e necessário, não pelas coisas que proporciona ou pelo reconhecimento que adquire, mas porque ele busca apenas aquilo apenas por ser bom e verdadeiro. Estes homens têm na contemplação da verdade o auge de sua realização, realização esta que pode ser denominada eudaimônica. Estes homens que decidem aspirar a tal vida contemplativa são capazes de buscar a verdade mesmo que eles não possam ou não consigam dizê-la a ninguém, seriam capazes de morrer por esta verdade, sendo ela algo validado por si só. Quando tem-se a pretensão de ensinar ou demonstrar tal verdade contemplada, o homem que a busca, deixa de viver esta vida contemplativa e passa a viver uma vida política, pois o fim de suas ações será o reconhecimento.

Portanto a felicidade do homem não consiste nem nas riquezas nem nas horas e muito menos no prazer (todas as coisas que, antes de contribuírem para a realização plena da mente humana, perturbam-na e até a ofuscam inteiramente), mas sim na contemplação.[5]

          Um grande exemplo a ser indicado é a vida de Sócrates. Um homem que buscava ser um amante da sabedoria acima de tudo, e foi capaz de morrer por aquilo em que acreditava. Não possuía a honra dos homens, não possuía os bens materiais como um rei, mas morreu realizado, por saber algo que ninguém sabia, fazendo dele o homem mais sábio, virtuoso, de todos.

REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 5º edição. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
ADLER, Mortimer J. Aristóteles para todos: uma introdução simples a um pensamento complexo. Trad. Pedro Sette-Câmara. São Paulo: É Realizações, 2010.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Leonel Vallandro e Gerd Bornhem. São Paulo: Abril S/A Cultura e Industrial, 1973.
______. Metafisica. Trad. Vincenzo Cocco. São Paulo: Abril S/A Cultura e Industrial, 1973.
BLACKBUM, Simon. Dicionário Oxiford de Filosofia. Trad. Desidério Murcho. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.
MONDIN, Battista. Introdução a filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. Trad. J. Renard. . ed. São Paulo: Paulinas, 1980.
PAULA, Alexandre José de. Clóvis de Barros Filho – Aristóteles – Parte 2. Disponível em:  <https://www.youtube.com/watch?v=Y7AxHmQVwPI>. Acesso em: 10 maio 2016.
REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia: 1 Filosofia Pagã Antiga. Trad. Ivo Stormiolo. São Paulo: Paulus, 2003.
SERTILLANGES,. A. D. A vida intelectual: seu espirito, suas condições seus métodos. Trad. Lilian Ledon da Silva. São Paulo: É Realizações, 2010.
SILVEIRA, Denis. As Virtudes em Aristóteles. Disponível em: <http://revistas.fw.uri.br/index.php/revistadech/article/viewFile/203/372>.  Acesso em: 22 maio 2016.




[1] ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Leonel Vallandro e Gerd Bornhem. São Paulo: Abril S/A Cultural e Industrial, 1973.
[2] Ibid., Livro I, cap. 6.
[3] Ibid., Livro I, cap. 5; livro X, cap. 7.
[4] PAULA, Alexandre José de. Clóvis de Barros Filho – Aristóteles – Parte 2. Disponível em:  <https://www.youtube.com/watch?v=Y7AxHmQVwPI>. Acesso em: 10 maio 2016.
[5] Apud MONDIN, Battista. Introdução a filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. Trad. J. Renard. 5. ed. edição. São Paulo: Edições Paulinas, 1980. p. 97.
 

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