A virtude de um intelectual
Alisson dos Santos
Licenciando de Filosofia Unisal Lorena-SP
E-mail: alissonsantos14@hotmail.com
A vida de um homem somente estudioso, difere-se da vida de
um intelectual. Este homem que busca levar uma vida intelectual preza sempre
para que sua vida esteja em concordância com a vida contemplativa, ao passo que
o objetivo de sua vida é a busca pela verdade. Não busca obter lucro ou méritos
por este saber, mas sim aproximar-se a cada instante da sabedoria.
O pensamento de Aristóteles continua influente no
pensamento de escritores contemporâneos, como é possível observar em
Sertillanges, que em uma de suas obras[1],
afirma que a virtude própria de um intelectual, é a estudiosidade, referindo-se à
temperança que um estudante deve ter entre duas circunstâncias: obrigações e
vontade de aprender. Ele também nos apresenta esta virtude da mesma maneira que
Aristóteles, dizendo que deve ser levada à plenitude através do hábito sendo
exercida em justa medida. Diz-nos Serttilanges, que um intelectual – o virtuoso
– não pode ser alguém negligente, em outras palavras alguém que tenha preguiça
de especular, contentando-se com os primeiros resultados, mas de outro lado ele
diz que este não deve possuir uma vã curiosidade, desta forma, um intelectual
deve evitar os extremos.
Um dado que não deve ser dispensado no
ensinamento de Sertillanges é o de que o intelectual é um homem do seu tempo.
Com isso ele diz que o intelectual nunca deve ir contra a moral e a ética,
sendo desumano para entregar-se aos estudos, esquecendo-se de suas obrigações.
Neste sentido apresenta a necessidade de uma justa medida. Até que ponto é bom
para alguém estar trancado em seu quarto estudando, quando a necessidade de seu
tempo é outra? Por isso a estudiosidade é uma virtude, algo variável, onde
pode-se encontrar para cada ação uma resposta do que é verdadeiro e irá
produzir o que é bom.
Compreendendo as virtudes e os tipos de vida pode-se
aferir o porquê da eudaimonia não
poder ser entendida somente como felicidade. Pois, hoje ao falar de felicidade,
remete-se logo a fazer apenas aquilo que se gosta, esquecendo, quase sempre, do
que é necessário. Esta concepção de felicidade aproxima-se mais de uma vida
vulgar, a qual o homem se entrega aos seus prazeres, fugindo assim da concepção
de vida contemplativa na qual busca-se contemplar a verdade em si, e
contemplando-a vive-se uma vida eudaimônica.
Um ótimo exemplo de um intelectual é
observar um médico que passa o dia em seu consultório atendendo seus pacientes
por amor a este ofício, mas também por necessidade, e ainda sim no final do dia
podendo descansar busca adquirir mais conhecimento em sua especialidade e o que
a envolve.
Ao pensar em alguém sábio logo
remete-se a um homem que possui um
título de mestre ou doutor. Este até o pode ser, no entanto o sábio para
Aristóteles, assim como o intelectual para Sertillanges, não é alguém que
possua uma especialização em determinado assunto, este seria apenas um
cientista. Para Aristóteles, o sábio é aquele que possui conhecimentos
diversos, e é capaz de julgar variados assuntos e em várias circunstâncias. Uma
das coisas mais comuns é encontrar especialistas, principalmente na área de
medicina, mas estes especialistas antes de serem considerados como tais foram
clínicos gerais. Isto mostra a importância de que para ser bom em algo é necessário
saber tudo, ou quase tudo, o que o compõe, influencia ou depende deste.
Sertillanges denomina esta ação como alargamentos[2], a busca de conhecimentos
relacionados ao desejado à medida que se aprofunda no conhecimento específico,
obtendo um maior leque de conhecimento.
No entanto, como já fora dito, a ação
intelectual é incapaz de mover algo por si só, porém ela tem um papel
fundamental na ação humana. Tudo o que um ser humano é intelectualmente reflete
em suas ações, de forma negativa ou positiva. Com isso entende-se que as
virtudes intelectuais têm uma grande influência na moralidade de uma pessoa,
por tratar-se de algo que as antecede. Por isso um intelectual, se realmente o
é, deve buscar ter uma vida contemplativa, virtuosa, em coerência com a verdade.
Queres levar uma vida intectual digna?
Esqueça as suas opiniões, suas pobres opiniões, e busque o que lhe é bom, e
acima de tudo o necessário: a Verdade.
Pode ocorre uma espécie de “relativismo
das ações”, onde tudo seria bom e verdadeiro, dependendo de cada situação. No
entanto aquilo que é Verdadeiro é apenas
um, pois a verdade se encontra na melhor maneira de realizar uma ação.
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola.
Dicionário
de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 5º edição.
São Paulo: Martins Fontes, 2007.
ADLER,
Mortimer J. Aristóteles para todos: uma introdução simples a um pensamento
complexo. Trad. Pedro Sette-Câmara. São Paulo: É Realizações, 2010.
ARISTÓTELES.
Ética
a Nicômaco. Trad. Leonel Vallandro e Gerd Bornhem. São Paulo: Abril S/A
Cultura e Industrial, 1973.
______. Metafisica.
Trad. Vincenzo Cocco. São Paulo: Abril S/A Cultura e Industrial, 1973.
BLACKBUM, Simon. Dicionário
Oxiford de Filosofia. Trad. Desidério Murcho. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 1997.
MONDIN, Battista. Introdução a filosofia: problemas,
sistemas, autores, obras. Trad. J. Renard. . ed. São Paulo: Paulinas, 1980.
PAULA, Alexandre José de. Clóvis de Barros Filho – Aristóteles – Parte 2.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Y7AxHmQVwPI>.
Acesso em: 10 maio 2016.
REALE, G.;
ANTISERI, D. História da Filosofia:
1 Filosofia Pagã Antiga. Trad. Ivo Stormiolo. São Paulo: Paulus, 2003.
SERTILLANGES,.
A. D. A vida intelectual: seu espirito, suas condições seus métodos.
Trad. Lilian Ledon da Silva. São Paulo: É Realizações, 2010.
SILVEIRA,
Denis. As Virtudes em Aristóteles. Disponível em: <http://revistas.fw.uri.br/index.php/revistadech/article/viewFile/203/372>. Acesso em: 22 maio 2016.
Comentários
Postar um comentário