Elementos comuns e elementos específicos nas duas visões


                                                                                                                        
                                                                                                                           Ailton Martins Evangelista

Licenciando em Filosofia Unisal
E-mail: ailtonevang1@gmail.com
          É possível encontrar uma linha imaginária que apresenta o governo como sempre um meio de se fazer o bem e favorecer o Bem comum, esta de certa forma é sua finalidade e sua identidade, o motor primeiro sempre será levado em conta como aquele que amplia este entendimento e favorece uma compreensão maior desta missão.
          A antiguidade clássica nos apresenta de certa forma o governo como algo realmente muito importante a ser vivenciado é por meio dele que o bem comum de toda a polis se estabelecia e o qual a população saia beneficiada.
          Nesta visão antiga os sábios deveriam ser pessoas seletas, verdadeiros guardiões cuja sua função eram ordenar bem a polis, conquistavam isso por meio do acesso a sabedoria que alcançavam por meio da contemplação a verdade.
          Aristóteles em sua obra Ética à Nicômaco apontava aos tipos de vida a serem vividos, dizia que a vida política enquanto desejosa somente de honras e prestígios seria algo vão e inútil, porém a vida enquanto voltada para a contemplação da verdade e busca pela sabedoria tornara-se caminho para uma verdadeira felicidade.
          Os antigos não traziam uma visão clara e acertada sobre Deus como na idade média, uma vez que ainda não tinham dados da revelação, a grande motivação do governo era em função do Bem comum a isso os sábios dedicavam suas vidas, mesmo não tendo uma religião teocêntrica, buscavam ordenar em vista da causa primeira, buscando sempre o supremo bem e observando nessa inspiração um meio de sucesso no ato de governar.
          Na idade média já é possível traçar um esboço de Deus, por meio dos dados de revelação trazidos pelo cristianismo esta visão tornou-se mais clara e límpida, Tomás de Aquino dá continuidade ao pensamento de Aristóteles ao acreditar na função do sábio é de ser ordenador de todas as coisas e de que este precisa agora está ligado diretamente a uma fonte primeira.
          Tomás de Aquino vai além ao profundar na figura de Deus enquanto este modelo de ordenamento, o que Aristóteles e os demais traçavam como motor imóvel, Tomás de Aquino vai atribuir a Deus.
          Neste sentido Tomás afirma a importância de haver entre o sábio e Deus uma aproximação, à medida que esta relação acontece ocorre uma certa eficácia do governo, uma vez que o sábio aprende daquele que é o ordenador por excelência.
          A ideia principal ligada ao governo permanece a mesma, sempre em prol do bem comum, na antiguidade é estabelecida com um cunho mais imanente, na idade média entretanto ela surge com um caráter ligado ao transcendente.
         

Conclusão
          Após uma reflexão é possível concluir que o sábio é apresentado como aquele que sabe lidar com o todo e consegue dispor ou organizar todas as ações para um fim, ele se manifesta como amigo da verdade e inimigo do erro, e é aquele que é o sistematizador, um organizador das coisas do mundo.
          Para que haja o êxito do bom governo é necessário que este esteja sob a custódia dos sábios que são verdadeiros guardiões e conseguem adquirir esta sabedoria quando buscam uma aproximação com a causa primeira, aproximando de Deus que é o ordenador por excelência conseguem desempenhar com sabedoria a função de governantes.
          À sabedoria, ou o sábio, tem a missão de fazer cumprir fazer aquilo para o que existe: ordenar as coisas trazendo as do caos para a ordem no mundo e, nesse ofício de ordenador, julgar o que se encontra ou não ordenado.
          A antiguidade clássica apresentou seus governantes enquanto homens seletos e verdadeiros guardiões, ainda sem uma luz transcendente os iluminando buscavam no desejo da busca pela verdade e amizade com a sabedoria os meios necessários para escolherem bem seus governantes.
          Com a chegada do período medieval este encontrou nas luzes transcendentes meios favoráveis de governar com sabedoria, iluminados pelo pensamento de Tomás de Aquino, o governo atribuído ao sábio não deixou de ser ordenador das coisas, porém teve sua continuidade enquanto um modelo transcendental que uma vez aproximado da causa primeira poderia render muito mais para todos a sua volta.
        O artigo buscou perceber o perfil do sábio enquanto ordenador das coisas de acordo com o pensamento clássico de Aristóteles e enfatizado por Tomás de Aquino no período medieval.
Referências
AQUINO. Santo Tomás de. Suma contra os gentios. Tradução de D. Odilão Moura e D Ludgero Jaspers. Porto Alegre: Sulina, 1990. v. I.

AQUINO, Santo Tomás de. Suma contra os gentios. Tradução de Maurílio José de Oliveira Camello. São Paulo: Loyola, 2015. v. III.

PASSOS JÚNIOR, Dílson. História da filosofia antiga. Lorena: Centro Unisal, 2013. Digitado
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Leonel Vallandro e Gerd Bornhm. São Paulo: Abril S/A Cultural e Industrial, 1973.


PATATIVA, Antonio. O oficio do sábio na Suma contra os Gentios. Revista Àgora Filosófica, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 7-22, jan./jun. 2005.

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