O Conceito de Felicidade na Fundamentação da Moral em Kant: em comparação com o pensamento de Aristóteles e Freud
Genaro
Augusto Brandão[1]
Resumo: Na Fundamentação da Metafísica
dos Costumes, Immanuel Kant pretende estabelecer um princípio moral, que será
válido, necessário e universal para a orientação do agir humano. Um princípio
que deve ser completamente destituído de elementos sensíveis. Não é a partir de
qualquer princípio empírico, a moralidade não pode ser fundamentada, uma vez
que um princípio empírico de modo algum pode ser universalizável, mas apenas
generalizável. A partir disso, o problema que se encontra na felicidade como
princípio moral é sua determinação por um elemento empírico, e por isso é
formalmente indeterminada, pois o ser humano não tem as condições necessárias
para delimitar precisamente o conjunto de condições necessárias para a sua
perfeita felicidade. A felicidade pode apenas ser condição material da
determinação da ação do sujeito, na medida em que é móbil (empírico) para a
ação. A felicidade não é a causa da moralidade para Kant, mas uma das suas consequências.
Palavras-chave:
Felicidade. Moral. Bem. Kant.
Aristóteles. Freud.
Introdução
A
temática desenvolvida neste trabalho é sobre o “a Felicidade”, tendo como base
a obra de Immanuel Kant, “Fundamentação da Metafísica dos Costumes”. É na
primeira seção da Fundamentação da Metafísica dos Costumes que Immanuel Kant,
faz as considerações sobre o conceito de vontade. Kant tem como objetivo
mostrar o método da análise o princípio da moralidade. Tem como ponto de
partida o conceito de boa vontade, para Kant “neste mundo, e também fora dele,
nada é possível pensar que possa ser considerado como bom sem limitação a não
ser uma só coisa: uma boa vontade” (FMC). Ele ainda vai dizer que somente a boa
vontade pode ser considerada um bem moral, pois ela pode ser boa sem limitação.
Kant procura assegurar que a felicidade não é
um bem incondicionado, mas apenas condicionado, um bem relativo. Diante disso,
a felicidade vai ser insuficiente para a fundamentação de um fim moral, pois
ela é determinada por um elemento através das experiências. O problema da
felicidade como princípio moral é sua determinação por um elemento empírico. A
felicidade pode apenas ser uma condição material da determinação da ação do
sujeito.
Para
Kant, a felicidade não é a causa da moralidade, mas sim uma das suas consequências.
O seu tratamento a uma determinação metodológica da Fundamentação que tem por
objetivo justificar o que Kant chama de uma necessidade absoluta da lei moral.
A moralidade não pode ser fundamentada a partir de qualquer princípio empírico,
como a felicidade. É justamente por causa dessa necessidade metodológica que
Kant tem de rejeitar a felicidade como possibilidade de fundamentação da
moralidade.
Aristóteles define a felicidade como uma
atividade da alma ajustada à vida perfeita. Sendo a felicidade uma atividade da
alma, as pessoas devem fazer um esforço intelectual para adquiri-la. A busca da felicidade
justifica a ação humana. Todos os outros bens são meios para atingir o bem
maior que é a felicidade. Aristóteles salienta que esse bem final deve ser algo
alcançável, senão não sustentaria a ação humana em busca do mesmo.
A felicidade
é tida como um bem supremo, todos a desejam, mas muitos a confundem com
prazeres, luxúrias, honrarias, riquezas. O filósofo afirma que uma mesma pessoa
pode ter uma visão equivocada da felicidade, em épocas diferentes de sua vida.
Para muitos, a felicidade seria algo que vem suprir o que está faltando naquele
momento, como o dinheiro, a saúde, a saudade. Mas é necessário entender que a
felicidade é algo maior do que as partes que a compõem.
Freud nos
diz que a Felicidade depende dos estados que nós nos encontramos, depende da
realidade em que vivemos se estamos passando por algum problema, enfermidade,
morte, entre outros, o importante é não passar por momentos de desprazer. Para
conseguirmos alcançar a Felicidade é necessário passar por momentos de prazer e
passando por este estado conseguimos alcançar um alto nível de Felicidade, com
isso nos dá um sentimento de satisfação. Segundo Freud, isso acontece por que
mexe com todo o nosso ser, principalmente com o nosso Psíquico.
Para o homem a
felicidade é tratada como algo que só se consegue através de momentos e coisas
prazerosas, muitos se espelham em outras pessoas achando que se formos todos
iguais, ou até mesmo procurando a copiar e imitar determinada pessoa, é
possível se alcançar ao nível extremo da felicidade. Pode até alcançar, mais
pode acontecer de ser momentos de passagem rápida. A felicidade depende do
estado em que a pessoa se encontra, ninguém consegue se alegrar pela perda de
um ente querido, ou até mesmo por um acidente grave.
A felicidade é um bem final, não encontramos
prontos, mas sempre teremos que construir a felicidade e ela passam
constantemente por construção.
1 Dados Biográficos de Immanuel
Kant
Immanuel
Kant (1724 - 1804) foi um filósofo alemão, considerado um dos maiores da
história e dos mais influentes no ocidente. Kant veio de família pobre e foi
criado no seio da religião protestante. Lecionou geografia e iniciou a carreira
universitária ensinando Ciências Naturais. Em 1770, foi nomeado professor
catedrático na Universidade de Königsberg. Kant estabeleceu um sistema
filosófico, operando uma resolução entre o racionalismo de Descartes e Leibniz
e o empirismo dos filósofos David Hume e John Locke.
Sua obra, Crítica da Razão Pura, visava colocar todas as questões sob
análise racional, sem a confusão que os sentidos poderiam causar para uma
conclusão mais cuidadosa. Tentou, então, resolver o problema do conhecimento
racional e empírico, pois não concordava que a experiência sensível era
limitada. Kant achava que as verdades universais poderiam ser encontradas a
priori, ou seja, antes de qualquer experiência.
Assim, para Kant, o espírito ou razão modelava e coordenava as
sensações, sendo as impressões dos sentidos externos apenas matéria prima para
o conhecimento. Kant negava que existia uma verdade última ou a natureza íntima
das coisas.
A moral de Kant é exposta nas obras que
se seguem: o Fundamento
da Metafísica dos Costumes (1785)
e a Crítica da Razão
Prática (1788). Finalmente, a Crítica do Juízo (1790) trata das noções de beleza (e da arte) e de
finalidade, buscando, desse modo, uma passagem que una o mundo da natureza,
submetido à necessidade, ao mundo moral onde reina a liberdade. Kant
passou toda a sua vida na cidade onde nasceu, em Königsberg, onde levou uma
vida metódica e circunspecta.
2 Conceito de Felicidade
Para
a melhor forma de compreensão do assunto que irei tratar que se refere: “O Conceito de
Felicidade na Fundamentação da Moral em Kant”
se faz necessário à compreensão de alguns termos, principalmente o conceito
sobre Felicidade e Moral. Estes termos são fundamentais para auxiliar a
compreensão.
2.1
A Felicidade
Quando
tratamos sobre a felicidade nos recordamos sobre momentos alegres e felizes que
passamos no nosso dia a dia. São momentos que nunca iremos esquecer, pois são
sentimentos que nos satisfaz. Não podemos nos esquecer desses momentos de alta
astral. O sentimento de felicidade é natural do homem, é algo constantemente
desejado para si.
O
homem não conseguiria viver sozinho, pois é um ser político e mesmo assim a
felicidade anda ao lado dele, pois não deixaria de passar por algum momento que
não fosse feliz ou não teria passado por algum momento de felicidade. Nós
construímos a cada dia a nossa felicidade, é um processo de construção, não
conseguiremos viver sem esse sentimento.
Kant afirma em sua obra
Fundamentação da metafísica dos costumes, que a constante busca pela felicidade
se dá a partir da eterna insatisfação do homem enquanto ser empírico. Essa
busca sempre será impulsionada principalmente pelas necessidades e inclinações
sensíveis. Já na abertura da Fundamentação da Metafísica dos Costumes, quando
Kant faz a referencia aos dons da fortuna, enumera o poder, a riqueza, a honra,
a saúde e também: “[...] todo o bem-estar e contentamento com a sua sorte, sob
o nome de felicidade [...] (FMC, 2004, BA 2-3, p. 22)”.
A felicidade
para Kant é o estado no qual tudo ocorre com o nosso desejo e também a nossa
vontade, este estado se efetiva em uma total adequação entre aquilo que o ser
humano quer que aconteça e aquilo que de fato acontece. A felicidade repousa
inevitavelmente numa perfeita harmonia entre os fins que o homem se propõe
realizar e o curso da natureza, já que, para a sua consecussão, na natureza
tudo deve ocorrer segundo o desejo de tal ser.
Ora,
se num ser dotado de razão e vontade a verdadeira finalidade da natureza fosse
a sua conservação, o seu bem-estar, numa palavra, a sua felicidade, muito mal teria ela tomado
as suas disposições ao escolher a razão da criatura para executora destas suas
intenções. (FMC, 2004. BA 5)
Segundo
Aristóteles, o bem é aquilo que todos desejam em ter. Se a felicidade é o fim
ao qual tende o apetite natural de todas as pessoas, então o fim último, o bem
supremo, será a própria felicidade. A felicidade entendida na polis deve
visar sempre o bem comum dos cidadãos. Quem age em vista do bem comum vive
feliz. Portanto, a felicidade é a arte de viver bem e é o bem supremo sob o
qual todas as ações do homem estão voltadas.
[...] se há, então, para as ações que praticamos alguma finalidade
que desejamos por si mesmas, sendo tudo mais desejado por causa dela, e se não
escolhemos tudo por causa de algo mais (se fosse assim, o processo prosseguiria
até o infinito, de tal forma que nosso desejo seria vazio e vão), evidentemente
tal finalidade deve ser o bem e o melhor dos bens. (ARISTÓTELES, 1999, p. 17).
A felicidade é o estado de
quem é feliz, tem uma sensação de estar bem, que devido a isso pode ocorrer
diversos motivos. É um momento durável de satisfação, a pessoa se sente
plenamente feliz quando não há nenhum momento de sofrimento. Quando ficamos
felizes é devido à junção de emoções e sentimentos que por algum motivo nos
leva a sentir, é uma sensação de que temos como a realização de um sonho, ao
rever uma pessoa muito querida ou até mesmo por estar de bom humor.
[1] Aluno do 3º semestre do curso de Filosofia do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL) – Unidade Lorena. Este trabalho foi orientado pelo o Prof. Me.Pedro Donizeti Morgado Júnior.
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