Conceito de virtude para Aristóteles

Alisson Rafael Lorenço dos Santos
Licenciando Filosofia UNISAL
e-mail: alissonsantos14@hotmail.com
         
 Pode-se notar que um dos adjetivos utilizado por Aristóteles para qualificar Sócrates foi virtuoso, isto se dá pelo fato de que Aristóteles vê a sabedoria como um tipo de virtude. No entanto quando se fala de virtudes em Aristóteles é necessário fazer uma distinção para o bom entendimento do pensamento do autor. As virtudes são consideradas em dois grupos:  éticas e dianoéticas; são elas também importantes para compreensão do homem.

1 Virtudes Morais: éticas
          Estes tipos de virtudes seriam adquiridas pelo homem no decorrer de sua vida. Estas virtudes são, no princípio algo embrionário, que é levado à perfeição pelo hábito. Por exemplo: os homens vêm a se tornarem justos à medida que praticam a justiça.
          As virtudes humanas encontram-se em meio a dois extremos, sendo um o excesso e outro a deficiência. Aristóteles de início fala em um meio termo entre os vícios que geraria a virtude. Umas das frases mais usadas de Aristóteles, a esse respeito, é que a virtude está em uma justa medida.
          Para ele a verdade – o bem – das ações morais dependem de três aspectos para definir se as ações serão boas ou ruins: sensação, razão e desejo. Destaca-se o terceiro aspecto – o desejo – memória das ações realizadas anteriormente pelo indivíduo que determina as ações como boas ou ruins, morais ou imorais. Assim é notável que a ação do homem nasce da atividade da razão, que indica o caminho para atingir a eudaimonia.

2 Virtudes intelectuais: dianoéticas
          Segundo o pensamento de Aristóteles apresentado, logo de início de uma de suas obras diz: “Todos os homens têm, por natureza, o desejo de conhecer: uma prova disso é o prazer das sensações, pois, fora até da sua utilidade, elas nos agradam por si mesmas [...]”[1].
  Ele, na obra Ética à Nicômaco considera esta sede de conhecimento como a virtude mais elevada da alma. Dessa maneira, ele afirma a natureza intelectual do homem, que o difere dos demais animais, que possuem sensações, mas não possuem a capacidade de refletir, sendo apenas instintivos. E o homem, com sua sede de conhecimento, só se sentirá realizado ao contemplar a verdade.
          A ação intelectual, em si, é incapaz de mover algo, ao contrário do que ocorre nas ações morais. Ela não possui como característica a sensação em si, pelo fato de ser um ato puramente racional, do intelecto, que antecede ação moral. Tem ela, a ação intelectual, como constituinte duas características: razão e desejo. O desejo é a abstração (memória) das sensações (realidade).
          A ação intelectual possui três funções: prática, produtiva e contemplativa.
·    Produtiva (poiética): enquanto função racional, próxima à prática, diferindo-se no ponto em que ela é produtora, criadora. Ela também é uma arte necessária para a existência da sabedoria prática, e ambas contribuem para o belo, pelo fato de dar ao homem a capacidade e o desejo de buscar a melhor forma de realização de seus atos. Segundo Giovanni Reale ela é um saber em função de produzir, fazer algo[2], portanto a capacidade de realizar o útil ou o belo, seria o homem enquanto artesão ou artista, voltado para técnica.
·    Prática (ética): “Saber que busca a perfeição moral de suas ações”[3]. Enquanto função intelectual, também possui como variáveis a razão e o desejo. Difere-se e antecede a produtiva – ação – por tratar-se da capacidade de deliberar (calcular) a capacidade humana para bem agir, ética e moralmente. É o homem enquanto um ser moral social que busca agir bem diante das situações de aparentemente controversas, para alcançar o que é certo e o que traz a felicidade.
·    Contemplativa (teorética): calculável e invariável, quando em concordância com o reto desejo é algo bom e verdadeiro, quando em discordância é algo mau e falso. Sendo assim, esta é uma função racional, de dimensão física e metafisica, universal e particular. A função contemplativa pode ser considerada como ponto central e mais importante do aprender, produzir e reproduzir do homem, pelo fato de ter ela o papel de melhor elaborar os raciocínios, entrando em todas as outras ciências – teóricas e práticas – para estas atingirem sua perfeição, tendo assim uma grande importância e assegurando o bem e a autorrealização do homem. Segundo Reale é uma ciência que busca o saber em si mesmo[4], onde a única finalidade é contempla-lo.

REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 5º edição. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
ADLER, Mortimer J. Aristóteles para todos: uma introdução simples a um pensamento complexo. Trad. Pedro Sette-Câmara. São Paulo: É Realizações, 2010.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Leonel Vallandro e Gerd Bornhem. São Paulo: Abril S/A Cultura e Industrial, 1973.
______. Metafisica. Trad. Vincenzo Cocco. São Paulo: Abril S/A Cultura e Industrial, 1973.
BLACKBUM, Simon. Dicionário Oxiford de Filosofia. Trad. Desidério Murcho. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.
MONDIN, Battista. Introdução a filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. Trad. J. Renard. . ed. São Paulo: Paulinas, 1980.
PAULA, Alexandre José de. Clóvis de Barros Filho – Aristóteles – Parte 2. Disponível em:  <https://www.youtube.com/watch?v=Y7AxHmQVwPI>. Acesso em: 10 maio 2016.
REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia: 1 Filosofia Pagã Antiga. Trad. Ivo Stormiolo. São Paulo: Paulus, 2003.
SERTILLANGES,. A. D. A vida intelectual: seu espirito, suas condições seus métodos. Trad. Lilian Ledon da Silva. São Paulo: É Realizações, 2010.
SILVEIRA, Denis. As Virtudes em Aristóteles. Disponível em: <http://revistas.fw.uri.br/index.php/revistadech/article/viewFile/203/372>.  Acesso em: 22 maio 2016.



[1]ARISTÓTELES. Metafisica. Trad. Vincenzo Cocco. São Paulo: Abril S/A Cultura e Industrial, 1973, Livro I, cap. 1.
[2] REALE,G. ANTISERI,D. História da Filosofia: 1 Filosofia Pagã Antiga. Trad. Ivo Stormiolo. São Paulo: Paulus, 2003, p. 195.
[3] Ibid., p.195.
[4] Ibid., p. 195.

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