Filosofia Kantiana

Alisson Rafael Lourenço dos Santos
Licenciando de Filosofia UNISAL
E-mail: alissonsantos14@hotmail.com
         
       A filosofia de Kant é de grande importância para a história da filosofia, porque uma das maiores marcas deixadas por ele é a ideia de autonomia. Kant afirmava que o homem deveria ser autônomo em todas as partes de sua vida, fazendo uso da faculdade da razão, tomando coragem de pensar por si mesmo, atrever-se a pensar (KANT, 2002A)[1].
          Pode-se dizer que a filosofia kantiana tem com base três perguntas, as quais ele busca responder, de forma mais direta, em suas três grandes críticas (GUYER, 2009), cada qual com sua natureza própria. A primeira delas é “o que posso saber?”, esta pergunta refere-se à metafisica e à lógica entendida como a capacidade cognoscente do homem. Kant busca responder a esta questão na obra Crítica da Razão Pura (KANT, 2012), em que discute as possibilidades e os limites de nosso conhecimento, oferecendo para ele novos fundamentos.
          A segunda é “o que devo fazer?”, esta se refere à moral, volta-se para as ações e as experiências do homem. Ele responde a esta questão na obra Crítica da razão prática ( 2005), em que trata de temas éticos como a formação dos princípios práticos da ação e a liberdade humana, partindo dos fundamentos a priori da razão.
          A terceira é “o que me é licito esperar?”, esta se refere aos juízos estéticos e teológicos vinculados à razão  prática e teórica. Ele responde a esta questão na obra Critica da faculdade do juízo (KANT, 2010), em que trata da capacidade de conhecimento para além da razão, levando em conta os sentidos e a memória, analisando a capacidade de conhecimento do homem pelo julgamento do que é bom e agradável. Estas três perguntas podem se resumir na pergunta “o que é o homem?”, que por sua vez, refere-se à antropologia. Ao se perguntar o que é o homem, naturalmente, pergunta-se o que ele pode conhecer, o que ele pode fazer e o que ele deve esperar.
          A vida e o contexto histórico de Kant foram de grande influência para a constituição de seu pensamento, sobretudo, para a sua teoria do conhecimento. Este filósofo teve, por primeiro, uma educação extremante racionalista, o racionalismo de René Descartes, e, posteriormente, uma educação empirista, o empirismo de David Hume. No entanto, Kant observa que em ambas as posições, opostas uma a outra, possuem falhas. Em meio ao racionalismo e ao empirismo, Kant adota uma posição criticista, em que busca eliminar os excessos do dogmatismo criado pelo pensamento de Descartes e do extrativismo criado pelo pensamento de Hume (HESSEN, 2012). Kant assume e fundamenta uma postura apriorística, o que obtém como solução ao problema do conhecimento ocasionado em meio a tais discussões.
          Pode-se dizer que esta nova estrutura de pensamento de Kant traz um giro nas perspectivas da teoria do conhecimento, sendo que anterior a Kant a pergunta que era feita era “o que conhecemos?”, Kant desloca tal pergunta para o sujeito, transformando-a em “o que o sujeito necessita para conhecer?”.
          Kant (2009) considerava como autoevidente a possibilidade de conhecimento, o filósofo o distingue em quatro, a saber: primeiro, o conhecimento a priori, este independe da experiência; segundo, o conhecimento a posteriori, adquiridos por meio da experiência; terceiro, o conhecimento analítico, o que o predicado está incluso no sujeito; e quarto, o conhecimento sintético, o que o predicado não está incluso no sujeito.
          A teoria do conhecimento de Kant e o desdobramento das questões discutidas serão abordadas, especificamente, nos dois próximos itens dedicados a duas das principais obras de Kant, a Crítica da razão pura (2012) e Crítica da razão prática, com a intenção de aprofundar no conteúdo especifico de ambas.

1 Crítica da razão pura
          Surge, na era moderna, uma problemática com relação ao conhecimento, ocasionada pela tensão entre racionalismo e empirismo, duas linhas filosóficas, nas quais uma afirmava a razão como fonte segura de conhecimento e a outra a experiência. Esta problemática viera a ser superada por Kant, com sua doutrina dos transcendentais.
          O filósofo fundamenta sua teoria afirmando que há um tipo de conhecimento universalmente validado denominado a priori, como já foi dito acima, refere-se a um conhecimento que independe das experiências, embora precise desta para produzir conhecimento. Kant une o conceito de conhecimento a priori ao de conhecimento sintético, produzindo, assim, o conceito de sintético a priori, que se relaciona ao conhecimento que está no sujeito antes da experiência, uma apercepção.
          Kant elenca três faculdades do conhecimento[2] que são estudadas separadas na obra Crítica da razão pura (2009). São elas:
·    Sensibilidade: corresponde à estética transcendental, ou seja, aquilo que possibilita a existência e percepção dos objetos que se encontram em torno do homem, são elas as apercepções a priori de espaço e tempo.
·    Entendimento: corresponde à analítica transcendental, a qual se ocupa em classificar pelas categorias (conceitos puros) os fenômenos (percepções) para que sejam inteligíveis.
·    Razão: corresponde à dialética transcendental, faculdade que analisa a possibilidade de conhecimentos sintéticos a priori dentro de três áreas da ciência: matemática, física e metafisica.
          Somente ao conhecimento das questões metafísicas, Kant responde negativamente, dizendo que em sua obra:
[...] se empenha em alargar o conhecimento humano para além de todos os limites da experiência possível, enquanto eu, humildemente, sustento que isso ultrapassa inteiramente as minhas faculdades; em vez disso, ocupo-me apenas com a razão mesma e seu puro pensar, cujo o conhecimento não preciso procurar muito além de mim mesmo [...] (KANT, 2012, p. 20)

          Fica claro, nesta parte do texto, que Kant estabelece como limite do conhecimento humano a metafísica, e em função disto, a impossibilidade de ter-se a metafísica como as demais ciências, pois esta é abstido de qualquer forma de dado empírico.

2 Crítica da razão prática
          A ética fundamental de Kant está relacionada a uma ética baseada em princípios universais. O filósofo parte da ideia de liberdade, sendo esta necessária para imputação de um valor moral, há em sua moral duas concepções de liberdade: a primeira delas é denominada autônoma, livre, é a que leva o homem a buscar as coisas e realizar ações como um fim em si mesmo, agindo por dever; já a segunda é denomina heterônoma, esta leva o homem a buscar a realização de suas ações em coisas externas, quando age-se, por exemplo, conforme o dever em vista de um fim[3]. Estas concepções de liberdade são as bases das duas posições morais citadas no primeiro capítulo deste artigo, a moral ontológica e a moral teleológica.
          Para Kant, a vontade por si só é neutra, somente a vontade que se submete ao dever é uma boa vontade (KANT, 2002A). Agir por dever é agir desinteressadamente. Ele afirma que devesse agir segundo o imperativo categórico, uma lei moral, que é fruto da razão pura prática.
          O próximo item tem como intenção trabalhar a moral kantiana presente, não só na Crítica da razão prática, mas também buscando elementos persente em outra obra do mesmo autor, Fundamentação da Metafisica dos costumes, com a intenção de proporcionar uma visão mais ampla da conceição moral deste.

Referências
ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco. Trad. Leonel Vallandro e Gerd Bornhem. São Paulo: Abril S/A Cultura e Industrial, 1973.
GUYER, Paul (org.). Kant. Trad. Cassiano Terra Rodrigues. Aparecida, SP: Ideias e Letras, 2009.
JOVILIVET, Régis. Curso de filosofia. Trad. Eduardo Prado de Mendonça. 12. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1976.
KANT, Immanuel. Crítica da razão Pura. Trad. Fernando Costa Mattos. Bragança Paulista: Vozes, 2012.
______. Crítica da faculdade do Juízo. Trad. Valerio Rohden, António Marques. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.
______. Crítica da razão pura. Trad. Lucimar A. Coghi Anselmi, Fulvio Lubisco. São Paulo: Martins Claret, 2009.
______. Crítica da razão prática. Trad. Paulo Barrera. São Paulo: Ícone, 2005.
______. Fundamentação da Metafisica dos Costumes e outros Escritos. Trad. Leopoldo Holzbach. São Paulo: Martins Claret, 2002A.
______. Sobre a pedagogia. Trad. Francisco C. Fontanella. Piracicaba: UNIMEP, 2002B.
SCRUTON, Roger. Uma breve história da filosofia moderna. Trad. de Eduardo Francisco Alves. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.
MAGALHÃES, Kézia Pimentel; MAROJA. Ângela. A filosofia prática de Kant: Deontologia e Teleologia. Revista Científica da Universidade Federal do Pará – UFPA, Pará, n. 03, mar. 2002.




[1] “Resposta à pergunta: “que é o esclarecimento’?”
[2] Doutrina dos transcendentais dos elementos
[3] No decorrer do texto estas concepções de liberdade serão retomadas, porém no nome de liberdade no sentido positivo e negativo.

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