Filosofia Kantiana
Alisson Rafael Lourenço dos Santos
Licenciando de Filosofia UNISAL
E-mail: alissonsantos14@hotmail.com
Pode-se dizer que a filosofia kantiana tem com base três
perguntas, as quais ele busca responder, de forma mais direta, em suas três
grandes críticas (GUYER, 2009), cada qual com sua natureza própria. A primeira
delas é “o que posso saber?”, esta pergunta refere-se à metafisica e à lógica
entendida como a capacidade cognoscente do homem. Kant busca responder a esta
questão na obra Crítica da Razão Pura
(KANT, 2012), em que discute as possibilidades e os limites de nosso
conhecimento, oferecendo para ele novos fundamentos.
A segunda é “o que devo fazer?”, esta se refere à moral,
volta-se para as ações e as experiências do homem. Ele responde a esta questão
na obra Crítica da razão prática (
2005), em que trata de temas éticos como a formação dos princípios práticos da
ação e a liberdade humana, partindo dos fundamentos a priori da razão.
A terceira é “o que me é licito esperar?”, esta se refere
aos juízos estéticos e teológicos vinculados à razão prática e teórica. Ele responde a esta
questão na obra Critica da faculdade do
juízo (KANT, 2010), em que trata da capacidade de conhecimento para além da
razão, levando em conta os sentidos e a memória, analisando a capacidade de
conhecimento do homem pelo julgamento do que é bom e agradável. Estas três
perguntas podem se resumir na pergunta “o que é o homem?”, que por sua vez,
refere-se à antropologia. Ao se perguntar o que é o homem, naturalmente,
pergunta-se o que ele pode conhecer, o que ele pode fazer e o que ele deve
esperar.
A vida e o contexto histórico de Kant foram de grande
influência para a constituição de seu pensamento, sobretudo, para a sua teoria
do conhecimento. Este filósofo teve, por primeiro, uma educação extremante
racionalista, o racionalismo de René Descartes, e, posteriormente, uma educação
empirista, o empirismo de David Hume. No entanto, Kant observa que em ambas as
posições, opostas uma a outra, possuem falhas. Em meio ao racionalismo e ao empirismo,
Kant adota uma posição criticista, em que busca eliminar os excessos do
dogmatismo criado pelo pensamento de Descartes e do extrativismo criado pelo
pensamento de Hume (HESSEN, 2012). Kant assume e fundamenta uma postura
apriorística, o que obtém como solução ao problema do conhecimento ocasionado
em meio a tais discussões.
Pode-se dizer que esta nova estrutura de pensamento de Kant
traz um giro nas perspectivas da teoria do conhecimento, sendo que anterior a
Kant a pergunta que era feita era “o que conhecemos?”, Kant desloca tal
pergunta para o sujeito, transformando-a em “o que o sujeito necessita para
conhecer?”.
Kant (2009) considerava como autoevidente a possibilidade
de conhecimento, o filósofo o distingue em quatro, a saber: primeiro, o conhecimento
a priori, este independe da
experiência; segundo, o conhecimento a posteriori,
adquiridos por meio da experiência; terceiro, o conhecimento analítico, o que o
predicado está incluso no sujeito; e quarto, o conhecimento sintético, o que o
predicado não está incluso no sujeito.
A teoria do conhecimento de Kant e o desdobramento das
questões discutidas serão abordadas, especificamente, nos dois próximos itens
dedicados a duas das principais obras de Kant, a Crítica da razão pura (2012) e Crítica
da razão prática, com a intenção de aprofundar no conteúdo especifico de
ambas.
1
Crítica da razão pura
Surge, na era moderna, uma problemática com relação ao conhecimento,
ocasionada pela tensão entre racionalismo e empirismo, duas linhas filosóficas,
nas quais uma afirmava a razão como fonte segura de conhecimento e a outra a
experiência. Esta problemática viera a ser superada por Kant, com sua doutrina
dos transcendentais.
O filósofo fundamenta sua teoria afirmando que há um tipo
de conhecimento universalmente validado denominado a priori, como já foi dito acima, refere-se a um conhecimento que
independe das experiências, embora precise desta para produzir conhecimento.
Kant une o conceito de conhecimento a
priori ao de conhecimento sintético,
produzindo, assim, o conceito de sintético
a priori, que se relaciona ao conhecimento que está no sujeito antes da
experiência, uma apercepção.
Kant elenca três faculdades do conhecimento[2] que são estudadas separadas
na obra Crítica da razão pura (2009).
São elas:
· Sensibilidade:
corresponde à estética transcendental, ou seja, aquilo que possibilita a
existência e percepção dos objetos que se encontram em torno do homem, são elas
as apercepções a priori de espaço e tempo.
· Entendimento:
corresponde à analítica transcendental, a qual se ocupa em classificar pelas
categorias (conceitos puros) os fenômenos (percepções) para que sejam
inteligíveis.
· Razão:
corresponde à dialética transcendental, faculdade que analisa a possibilidade
de conhecimentos sintéticos a priori dentro de três áreas da ciência:
matemática, física e metafisica.
Somente ao conhecimento das questões metafísicas, Kant
responde negativamente, dizendo que em sua obra:
[...]
se empenha em alargar o conhecimento humano para além de todos os limites da
experiência possível, enquanto eu, humildemente, sustento que isso ultrapassa
inteiramente as minhas faculdades; em vez disso, ocupo-me apenas com a razão mesma
e seu puro pensar, cujo o conhecimento não preciso procurar muito além de mim
mesmo [...] (KANT, 2012, p. 20)
Fica claro, nesta parte do texto, que Kant estabelece como
limite do conhecimento humano a metafísica, e em função disto, a
impossibilidade de ter-se a metafísica como as demais ciências, pois esta é
abstido de qualquer forma de dado empírico.
2 Crítica da razão prática
A ética fundamental de Kant está relacionada a uma ética
baseada em princípios universais. O filósofo parte da ideia de liberdade, sendo
esta necessária para imputação de um valor moral, há em sua moral duas
concepções de liberdade: a primeira delas é denominada autônoma, livre, é a que
leva o homem a buscar as coisas e realizar ações como um fim em si mesmo, agindo
por dever; já a segunda é denomina heterônoma, esta leva o homem a buscar a
realização de suas ações em coisas externas, quando age-se, por exemplo,
conforme o dever em vista de um fim[3]. Estas concepções de
liberdade são as bases das duas posições morais citadas no primeiro capítulo
deste artigo, a moral ontológica e a moral teleológica.
Para Kant, a vontade por si só é neutra, somente a vontade
que se submete ao dever é uma boa vontade
(KANT, 2002A). Agir por dever é agir desinteressadamente. Ele afirma que devesse
agir segundo o imperativo categórico, uma lei moral, que é fruto da razão pura
prática.
O próximo item tem como intenção trabalhar a moral kantiana
presente, não só na Crítica da razão
prática, mas também buscando elementos persente em outra obra do mesmo
autor, Fundamentação da Metafisica dos
costumes, com a intenção de proporcionar uma visão mais ampla da conceição
moral deste.
Referências
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Ética a Nicômaco. Trad. Leonel
Vallandro e Gerd Bornhem. São Paulo: Abril S/A Cultura e Industrial, 1973.
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KANT,
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Trad. Fernando Costa Mattos. Bragança Paulista: Vozes, 2012.
______.
Crítica da faculdade do Juízo. Trad.
Valerio Rohden, António Marques. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2010.
______.
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A. Coghi Anselmi, Fulvio Lubisco. São Paulo: Martins Claret, 2009.
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Crítica da razão prática. Trad.
Paulo Barrera. São Paulo: Ícone, 2005.
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______. Sobre a pedagogia. Trad. Francisco C.
Fontanella. Piracicaba: UNIMEP, 2002B.
SCRUTON, Roger. Uma breve história da filosofia moderna.
Trad. de Eduardo Francisco Alves. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.
MAGALHÃES,
Kézia Pimentel; MAROJA. Ângela. A
filosofia prática de Kant: Deontologia e Teleologia. Revista Científica da
Universidade Federal do Pará – UFPA, Pará, n. 03, mar. 2002.
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