Homem Tirânico no século XXI

Lucas Santos Correia
No pensamento de senso comum a injustiça sempre traz menos felicidade que a justiça, tanto em relação aos indivíduos quanto em relação à organização da polis. Acabamos de ver que para chegarmos ao um dado certo de justiça e injustiça de justo ou injusto é preciso analisar as aparências de justiça.
Na nossa sociedade de hoje é muito nítido perceber que as pessoas que buscam a justiça não têm uma vida feliz. A vida da pessoa se descontrói, acaba sendo consumida pelo poder do homem tirano. Ele que não se encontra na busca de uma vida feliz acaba atraindo outras pessoas. O homem que tem o poder em suas mãos e que não busca a justiça e não é digno consigo mesmo, isso faz com que a vida da pessoa se destrua, acabando com a felicidade dela.
A falta de leis ou o não cumprimento das leis também é um caso sério para nossa sociedade.
“Numa total anarquia e ausência de leis, praticará todas as espécies de audácias, pois é o único que manda e que conduz os súditos, tal como faz o monarca com a cidade. Indivíduos desse tipo, apesar da maioria sensata da população, compõem a guarda pessoal de algum tirano ou tornam-se mercenários em tempo de guerra.” (PAVIANI, pág.39-56, 2002 ).
Se pararmos para pensar, hoje tudo é organizado a base de leis, a nossa sociedade em si é dirigido à base de leis, o homem em si é comandado por leis, pode isso não pode aquilo. O homem tirano esquece-se do poder da lei, faz aquilo conforme os seus sentimentos, os seus desejos, as vontades. O homem tirano faz com que as leis sejam feitas a parti de si e não do conjunto. Corro risco de dizer que hoje a sociedade sofre com esse tipo de gente, que se coloca no centro, que tudo ocorre a partir dela.
Como o homem tirânico está presente em nosso cotidiano em nosso dia-a-dia, ao pararmos e analisarmos as nossas atitudes, posturas diante de algum trabalho ou até mesmo de uma dificuldade, com certeza procuraríamos dar respostas contrarias ao homem tirano.  
É possível, a partir desta constatação, lançar a importância da lei como garantia de uma vida em sociedade.
A lei é algo que brota da Razão Verdadeira e Reta. O fim da lei é o bem comum acima do bem dos indivíduos. O legislador deve estar acima da lei para também modifica-la quando necessário. Ele deve insistir mais nas razões da lei que em suas penalidades.
Diante de tantos argumentos apresentados aqui, viver sem leis seria viver em um continuo sofrimento, isolamento, fraqueza, sem força. A lei é importante para constituição, para construção de uma sociedade que busca oferecer a cada individuo a felicidade. Viver honestamente, buscando a justiça e vivendo as virtudes é viver de acordo com “as leis”.
“Para Platão, nos sonhos, torna-se mais evidente a existência de desejos terríveis, sem leis, selvagens, mesmo nas poucas pessoas comedidas. Ele lembra que o homem democrático, “formado” pela educação, possui um pai econômico, voltado para os desejos de fazer fortuna e, portanto, que despreza os desejos não necessários da diversão e da ostentação. Atraído pelos lados opostos (o oligárquico e o tirânico), fica no meio das duas maneiras de viver, gozando com moderação, segundo seu juízo, de cada um deles. Leva uma vida que não é indigna nem desregrada, depois de se ter transformado de oligarca em democrata. Aquele que tem uma natureza melhor do que os seus corruptores no convívio com os homens nobres e de bons desejos, e na possível entrega a todo tipo de excesso e de aversão à economia do pai, acaba ficando no meio, entre o homem oligarca e o homem tirano, assume a conduta do homem democrata” (PAVIANI, pág.39-56, 2002 ).
As leis não só organiza uma sociedade, como também humaniza o homem, deixa o homem ser livre, o deixa ser quem ele realmente é.

Considerações Finais
Viver a justiça, viver feliz, praticar o bem e fazer das virtudes o alicerce da minha vida e ainda cumprir com as leis, não é fácil. Platão vai nos dizer da educação, uma boa educação, uma boa instrução, é garantir honestidade, justiça e felicidades na vida do que foi educado por esses princípios de vida.
Como vimos, no passado não existia nem justiça e nem lei e para fazer algo do seu interesse, você tinha que sofrer, hoje passou para ao contrário, já existindo as leis e a justiça somos nós que sofremos pela não execução delas. Se um dia sofremos por elas não existirem, hoje sofremos por elas existirem.
Se hoje temos as leis e a justiça, isso não deveria fazer da nossa vida uma felicidade e não uma vida desgraçada. Devíamos ter uma vida feliz, mas por conta de ainda existir nos tempos de hoje seja no campo da educação, da política e da religião o “homem tirânico” ainda temos que passar por dores, sofrimentos e até por uma vida desgraçada para chegar numa vida feliz.
Platão nos ajuda compreender que o homem só atingirá a felicidade quando abandonar o mundo sensível (o mundo egoísta, individualista) a partir do momento que chega à ideia do bem, que é a causa das ideias perfeitas que tratamos aqui como justiça, felicidade.
Portanto se deixarmos de lado o orgulho, o poder, a vontade de querer dar ordem, o egoísmo, a individualidade conseguiremos ter uma sociedade – uma polis mais viva, honesta, justa e educadora que sabe transmitir os seus valores e deixa que seus indivíduos vivessem felizes na pratica da justiça e do bem.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
PAVIANI, Jayme. O homem tirânico na República de Platão. Hypnos. Revista do Centro de Estudos da Antiguidade. ISSN 2177-5346, n. 9, 2002.
PLATÃO. A República. 8. ed.  Trad. Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2010.

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