AS VIRTUDES DE KANT E O SISTEMA PREVENTIVO DE DOM BOSCO

Lucas Santos Correia
“Um combate ao Bullying”

INTRODUÇÃO
Manter a disciplina numa sala de aula constituída de adolescentes e jovens  é uma dificuldade que, com algumas variantes, mostra-se quase tão antiga como a civilização. Mas o problema de fundo não deixa de ser o mesmo, hoje como ontem.
A educação não se restringe a conseguir manter, dentro do recinto de uma sala de aula, todos os alunos em ordem e silêncio, para que o professor possa transmitir com eficácia seus ensinamentos. O bom educador deve saber moldar a personalidade de seus educandos, corrigindo os defeitos, estimulando as qualidades, fazendo-os amar os princípios que orientarão a vida. Numa boa educação, a formação religiosa ocupa lugar principal, pois sem amor de Deus e auxílio da graça ninguém consegue vencer as más inclinações e praticar estavelmente a virtude.
O presente artigo tem como propósito refletir sobre a virtude em Kant, à luz de uma leitura da Fundamentação da metafísica dos costumes onde faço uma conexão com a educação, tomando por referência o texto Sobre a pedagogia.
Inicialmente será abordada a questão da virtude em Kant, para ele a virtude não se define como um hábito de praticar somente as leis, o homem age a partir da representação da lei em sua vida, da sua liberdade.
Depois trago a discussão a partir dos seus escritos sobre pedagogia. A educação para Kant é divida em prática e física, ambas precisam circular sob o elemento principal que é a formação do caráter do homem. As virtudes em Kant na educação, deve ser adquirida, pois ela não é inata, ou seja, precisamos de um ambiente, de um espaço para nos formarmos, para aprendermos a vivê-la.
Em seguida apresento o Sistema Preventivo, seus valores e uma reflexão ao problema do Bullying.

1. AS VIRTUDES EM KANT

Para Kant a doutrina da virtude constitui-se da doutrina geral dos deveres que dizem respeito à liberdade interna, enquanto que para o exercício da doutrina do direito se requer a liberdade externa. Nesse sentido cabe esclarecermos que Kant explica que, outrora, o termo ética significava doutrina dos costumes em geral, que também se chamava doutrina dos deveres. Depois se considerou conveniente que o termo ético se restringisse a uma parte da doutrina dos costumes ou doutrina dos deveres, que não estão submetidos às leis externas, passando a ser chamada na Alemanha de doutrina da virtude. A partir de então o sistema da doutrina universal dos deveres foi dividido em sistema da doutrina do direito, o qual se refere às leis externas e em doutrina da virtude, que se refere às leis internas de cada indivíduo.
Kant, em sua obra A Metafísica dos Costumes, ao tratar do conceito de virtude em geral, o define inicialmente como a fortaleza moral da vontade. Mas, logo acrescenta que esta definição não é completa porque tal fortaleza poderia também dizer respeito a um ser anto (sobre humano) no qual não haveria os impulsos, as inclinações como obstáculos para o cumprimento da lei moral. Um ser santo realiza as suas ações fundamentadas em máximas que estão em conformidade com a lei. Assim sendo, Kant define a virtude desse modo: A virtude é a fortaleza moral da vontade de um homem no cumprimento do seu dever, que é uma coerção de sua própria razão legisladora, na medida em que esta se constitui a si mesma como poder executivo da lei.
A diferença entre a virtude e o vício que, segundo Kant, não se encontra no grau de cumprimento de certas máximas, mas somente na qualidade específica destas (na sua relação com a lei). Ao se referir ao grau de cumprimento das máximas de virtude, Kant está afirmando que seu entendimento difere do de Aristóteles que concebe a virtude como o meio termo entre dois vícios contrapostos, como por exemplo, a boa economia como meio entre dois vícios, a prodigalidade e a avareza. Desse modo, os vícios, para Kant, se fundamentam em máximas contrárias às máximas da virtude, isto é, constituem-se por intenções opostas à lei moral e necessitam ser combatidos através de um esforço por parte do ser humano, visto que a sua vontade não coincide, na grande parte das vezes, com a lei moral. Em outras palavras, é a presença no ser humano do mundo fenomênico e o mundo numérico.
A doutrina da virtude é o lado formal da ética e é mais amplo do que a doutrina dos deveres da virtude que corresponde ao aspecto material da ética. A doutrina da virtude trata das obrigações éticas as quais acompanham ambas, as leis éticas e as leis jurídicas.
Kant afirma que a virtude não pode definir-se como o hábito de praticar ações conformes à lei, pois ela requer que o sujeito agente determine-se a agir pela representação da lei. O hábito é definido por Kant como a agilidade para agir e uma perfeição subjetiva do arbítrio. Porém, como Kant esclarece, nem toda a agilidade é um “hábito livre”, um costume que se fundamenta na necessidade por repetição frequente da ação, não se caracteriza como uma ação livre, por ser uma repetição irrefletida e, com efeito, não pode ser um hábito moral. O hábito moral não é uma disposição do arbítrio, mas da vontade, cuja regra adotada é uma faculdade de desejar universalmente legisladora, ou seja, a capacidade objetiva da vontade, o de gerar leis. O arbítrio é o lado subjetivo da vontade, aquele que geram máximas e define-se como a consciência da capacidade de realizar a ação, porém se não houver a consciência desse poder então só haverá o desejo. Podemos também dizer que o arbítrio representa a faculdade determinável individual, e a vontade a faculdade legisladora universal. Em Antropologia de um Ponto de Vista Pragmático, Kant afirma que o hábito é uma necessidade física interna de continuar procedendo do mesmo modo que até agora se procedeu. Kant explica que ao agir desse modo, não há valor moral nas máximas das ações, uma vez que a liberdade do espírito do ser humano é prejudicada e leva, além disso, à repetição irrefletida do mesmo ato (monotonia), tornando-se com isso ridículo, porque é guiada instintivamente pela regra do hábito, como uma segunda natureza (não humana), atitude que faz sobressair o aspecto animal no ser humano.

2. AS VIRTUDES DE KANT NA EDUCAÇÃO

Na Metafísica dos Costumes Kant descreve a segunda parte da filosofia prática como:
“a antropologia moral que conteria as condições do cumprimento das leis da primeira parte da filosofia moral na natureza humana, porém somente as condições subjetivas, sejam favoráveis sejam contrárias, a saber: a produção, a difusão e o enraizamento dos princípios morais (na educação nas escolas e na instrução popular), e com ensinamentos similares e preceitos baseados na experiência” (217).

Kant, em um ponto, de fato declara que a pedagogia é a contrapartida da metafísica dos costumes (Metafísica dos Costumes 217), portanto, a teoria educacional de Kant é lida de um modo melhor como um capítulo dentro do seu projeto maior de ética aplicada, onde “aplicada” significa o estudo empírico da cultura e da natureza humana para se encontrar aquilo que auxilia e os obstáculos que existem para a espécie como um todo para levar a cabo os princípios morais a priori.
Isso porque a moralidade para os seres humanos é, na visão de Kant, o resultado pretendido de um processo educacional extensivo já que atrás da educação repousa o grande segredo da perfeição da raça humana (444). A própria moralidade, ao menos no que concerne aos seres humanos, deste modo, pressupõe a educação. A moralidade não pode simplesmente ser um produto causal da educação, mas ela pressupõe a educação como uma pré-condição necessária uma vez que por natureza o ser humano não é um ser moral em absoluto (492).
Para Kant, virtude significa fortaleza moral da vontade. Ela é a fortaleza moral da vontade de um homem no cumprimento do seu dever, que é uma coerção moral de sua própria razão legisladora na medida em que esta se constitui a si mesma como poder executivo da lei. Ela mesma não é um dever, ou bem possuí-la não é um dever, mas, ela manda e acompanha seu mandato com uma coerção moral (possível segundo as leis da liberdade interna). Para o homem, no entanto, posto que a coerção deve ser irresistível, se requer uma fortaleza cujo grau somente podemos apreciar pela magnitude dos obstáculos que o homem gera em si mesmo mediante suas inclinações. Assim, pois, “os vícios incubados nas intenções contrárias à lei são os monstros que o homem tem que combater”. Daí que a fortaleza moral, entendida como valor, constitua, nas palavras de Kant, também a suprema honra guerreira do homem e a única verdadeira. Também se chama a verdadeira sabedoria, isto é, sabedoria prática, porque faz seu o fim último da existência do homem na Terra. Somente possuindo-a o homem é livre, saudável, próspero, e, de acordo com Kant, não pode sofrer perdas pelo azar ou pelo destino, porque possui a si mesmo e os virtuosos não podem perder sua virtude.
Sim, Kant afirma que a virtude deve ser adquirida e que ela não é inata. A faculdade moral do homem não seria a virtude, se ela não fosse produzida pela força da resolução nos conflitos com as inclinações que podem se opor. Ela é produto da razão pura prática na medida em que esta conquista, com consciência de sua superioridade - pela liberdade -, o poder supremo sobre tais inclinações.
A cultura da virtude possui como princípio o exercício vigoroso, firme e corajoso da virtude que é a sentença dos estoicos que diz habitue-se a suportar os maus contingentes da vida e a afastar-se dos gozos supérfluos. Segundo Kant, trata-se aqui de um tipo de dietética para o homem que consiste em se conservar moralmente são. Mas a saúde é um bem-estar negativo, ela não pode ela própria ser sentida. É necessário que alguma coisa a ela se atrele, que procure um contentamento para viver e que seja, portanto, puramente moral. E, concordando com Epicuro, Kant assegura que isto é um coração sempre alegre.

3. SISTEMA PREVENTIVO DE DOM BOSCO
Segundo Pietro Braido (2008, p. 66), quando se refere a Sistema Preventivo Dom Bosco tinha em mente “um modo de agir, um complexo de procedimentos educativos, que implicavam todo um organismo de convicções, de ideias, de razão e de fé, que constituem o seu modo de tratar educativamente os jovens, sem ulteriores preocupações científicas e epistemológicas”.
Sua visão lhe permitiu captar ideias e práticas educativas comuns à mentalidade pedagógica de seu tempo, dando-lhe um arranjo próprio e original, rearticulando-as e adaptando-as de acordo com as necessidades dos educandos e dos seus colaboradores, e consolidando-as de acordo com a reflexão que fazia de sua prática educativa.
Dom Bosco não foi um teórico da educação, mas tinha sensibilidade e visão para perceber as necessidades das pessoas e as mudanças na sociedade de seu tempo. Por isso, tornou-se um educador que viveu na prática uma experiência educativa original.
Para Bosco, os sistemas educativos podem ser do tipo preventivo ou repressivo. No primeiro, o educador deve ser guia junto ao educando, dando conselhos e correções com bondade. Por isso o tripé (razão e religião) do seu Sistema Preventivo tem como componente a amorevolezza – carinho (SCARAMUSSA, 1984).
Numa comparação imediata, diferem os dois sistemas quando o preventivo torna conhecidas as regras de uma instituição, para depois garantir que os alunos estejam sempre sob os olhares atentos do diretor e de seus auxiliares. Estes agem como pais carinhosos, dando conselhos e corrigindo sempre que preciso, mas com bondade. O aluno, dessa forma, considerará o mestre como um pai ou irmão, estabelecendo uma relação de confiança e estima de grande interesse para o processo educativo (BOSCO, 1983).
De acordo com Sandrini (2012), no centro do sistema educativo de Dom Bosco está à pessoa como valor absoluto. A atenção à pessoa se concretiza numa série de atitudes e intervenções: compreensão das razões históricas e pessoais das situações vividas; reconhecimento dos valores dos quais a pessoa é portadora; confiança nas potencialidades e na capacidade de superar a situação de dificuldade recuperando a estima em si e a confiança na vida; a procura comum de alternativas de promoção integral para a construção do projeto de vida. O Sistema Preventivo de Bosco possui, em si mesmo, os recursos que permitem não apenas dar respostas eficazes a aspirações e a diferentes formas de pobreza juvenil, mas ajuda a tornar os jovens sujeitos ativos e protagonistas de renovação social.
O Sistema Preventivo é, para Passos Júnior (2011, p. 86), uma “Pedagogia com o coração do Feudo e a Razão da Cidade no século da liberdade”. João Bosco não foi um teórico da educação, pois sua ação educativa nasceu de sua intuição a partir de suas experiências de vida, de sua índole e de sua inteligência, ou seja, de sua prática como educador. Pouco utilizou de enfoques filosóficos, embora fossem a base de sua ação pedagógica. Apresento os três pés sobre os quais se assentam o Sistema Preventivo. A razão, a religião e a bondade possuem no seu pensamento e na sua prática educacional um sentido bem definido, conforme Passos Júnior (2011, p. 94):
A Razão deve presidir a educação enquanto leva o jovem
a entender a verdade e o bem. Bosco acredita que uma
determinação dos educadores só calaria fundo no jovem
se esse apreendesse o seu sentido, acolhendo-a para sua
formação; daí, a necessidade das orientações dos educadores
serem explicitadas no seu sentido lógico e nos
benefícios que trarão para a vida do educando. Somente
quando o jovem entende e está racionalmente convencido
das orientações dos educadores, só então as assumirá.

A Religião com seus ensinamentos e preceitos oferecia
a mística da verdade abraçada pela razão. Valoriza sobremaneira
a conversa pessoal e o aconselhamento de
um guia espiritual para moldar e formar o bom cristão. A
religião é vista como fonte e sustentáculo dos grandes
ideais de vida. A Bondade,ainda que sempre nomeada
em terceiro lugar, após a razão e a religião é, porém, a
primeira a ser sentida pelo jovem ao perceber o respeito e
amor com que é acolhido. Não é uma forma afetiva pegajosa,
mas, temperada pela razão e sobriedade. O jovem
deve se sentir compreendido naquilo que é e do que gosta,
sabendo-se respeitado no seu modo de ser e, acima de
tudo, percebendo-se amado.

Dom Bosco procurou sintetizar todo esse modo de ser com a expressão: “a educação é obra do coração”. Para ele, o educador é alguém que se vê caminhando sobre rosas, mas, de verdade, sabe que pisa em espinhos.

4. VALORES DO SISTEMA PREVENTIVO DE DOM BOSCO

O Sistema Preventivo de Dom Bosco no qual estamos tratando, traz consigo alguns valores próprios, que auxilia o educador na boa relação para com o seu educando. Assim se faz uma reciprocidade de confiança e abertura, no qual se resulta em uma boa disciplina e um bom relacionamento entre todos. Vejamos a seguir esses valores:
                                            
a) Assistência-Presença: a assistência-presença resume para Dom Bosco o papel do educador que pratica a razão, a religião e a amorevolezza. Essa assistência ela é uma assistência gratuita, ou seja, ela não depende tanto de habilidades técnicas de abordagem, mas principalmente das motivações e intenções que transparecem na relação que se estabelece. Ela é uma assistência como presença ativa, essa presença do educador não deve ser centralizadora, impositiva e controladora. Também não pode ser de mero espectador da atividade do jovem. Presença ativa significa atuar junto com o educando, intervindo de forma discreta, envolvente, amorosa, estimulando e facilitando seu protagonismo. E uma assistência individualizada, que seja centrada nas situações particulares dos jovens, especialmente em suas necessidades. É diferenciada de acordo com a idade e as características pessoais de cada um.

b) Razão: o jovem tem capacidade de compreender a vida e a razão de ser das coisas, por isso deve sempre perceber os motivos da ação educativa. Mais importante que fazer as coisas porque devem ser feitas, ou porque se deve obedecer a um regulamento, mais importante é fazer por convicção, assumindo com responsabilidade as exigências para o crescimento pessoal e para a convivência no grupo.

c) Religião: o educando busca o sentido da vida e a alegria de viver. Através de uma convivência integradora, experienciando a unidade pessoal, a mística, a ascese, com base no Evangelho, educadores e educandos abrem-se aos valores do humano e do transcendente, buscando construir o próprio projeto de vida, enquanto se inserem na comunidade de fé.

d) Amorevolezza (bondade): a presença salesiana se identifica pelas atitudes de acolhida, bondade, alegria e fraternidade, que criam um clima de família. Através de uma convivência aproximada e amiga, educadores e educandos usufruem a criatividade, a subjetividade, o emocional, o afetivo, a comunicabilidade, o diálogo, a amizade, a alegria de viver.

e) Ambiente Educativo Familiar: o Sistema Preventivo só pode ser vivido quando todos estão empenhados na criação de uma comunidade educativa, com sentido de pertença e participação, num clima de família. A familiaridade se expressa na amizade, na aproximação. A chave da familiaridade é o clima de alegria. A racionalidade do ambiente se manifesta na sua simplicidade. As normas regulamentares reduzidas ao mínimo. Nada de complicações, burocracia, formalismo. Muita espontaneidade, alegria, diálogo cordial entre todos, sem distâncias e etiquetas. Para se criar este clima, é preciso dar vez ao jovem, para que ele possa exprimir-se na sua riqueza de comunicação, de expressão, de movimento, de criatividade e, porque não, de barulho e inquietação. Sua participação deve ser incrementada através de múltiplas práticas e vivências, como associações, grupos, música, teatro, celebrações, passeios, esportes, festas.

5. AS VIRTUDES DE KANT E O SISTEMA PREVENTIVO DE DOM BOSCO COMO FORMA DE COMBATE AO BULLYNG

A violência, nos últimos anos, tem crescido no mundo todo. Da falta de respeito, até crimes hediondos, a violência tem sido alarmante. Até mesmo na escola, lugar de construção de saberes, ela está presente. São inúmeros os casos: depredações e vandalismo, assassinatos, falta de respeito, indisciplinas e incivilidades, estas também conhecidas como bullying.
Dentre todos os tipos de violência ocorridos na escola, o bullying é o mais preocupante, por sua crescente disseminação entre os educandos. Sua ação maléfica provoca enormes traumas aos envolvidos, causando doenças psicossomáticas, transtornos mentais e psicopatologias graves, além de estimular a delinquência e o abuso de drogas.
O bullying é um problema que existe em todas as escolas; ainda assim, poucas têm consciência de sua existência ou mesmo das graves consequências advindas desses atos cruéis e intimidadores. Em muitos casos, ele é confundido com indisciplina ou mesmo brincadeiras próprias da idade ou, ainda com agressões corriqueiras, casuais.
Percebe-se aí que a formação do caráter se concretiza na moralidade. Contudo, para chegar a essa etapa se requerem alguns passos anteriores. Assim é que se tornam fundamentais a disciplina, a cultura e a civilização. Por meio da educação, o ser humano deve ser disciplinado, tornar-se culto, civilizar-se e moralizar-se.
A disciplina muitas vezes é vista como a parte negativa da educação, isto é, apenas impedir que a animalidade prejudique o próprio ser humano, tanto no plano individual quanto no nível da espécie. No entanto, ela é muito importante na educação uma vez que permite ao educando controlar os seus impulsos e aprender a respeitar as outras pessoas.
O desenvolvimento de habilidades no manejo com as coisas e a instrução, por exemplo, leitura e escrita, utilizar instrumentos musicais, jogos e outras atividades que propiciem o desenvolvimento da disposição técnica que o ser humano possui, podem auxiliar muito nesse aprendizado de controle pessoal. Precisamos também estabelecer relações na sociedade, ser aceitos e ter capacidade de influência em determinados momentos. Para esse processo, a educação deve propiciar a aquisição da civilidade ou prudência, elemento indispensável para tal.
O sistema preventivo responde isso de maneira muito coerente, pois com a prática dos valores do Sistema o educando não se deixará influenciar pelo erro e não caíra numa possível falta de disciplina.
A confiança e a generosidade que se encontra dentro do Sistema Preventivo nos confere uma relação positiva entre todos aqueles que vivem dentro de um ambiente educativo, isso faz com que o educando preste atenção nas atitudes dos demais e descobre que apelidos, brincadeiras de mau gosto ou aquilo que deixe o próximo envergonhado ou insatisfeito, não seja bom praticar.
Por isso que, a prática das virtudes que Kant nos apresenta e a vivência do Sistema Preventivo de Dom Bosco no combate ao bullying é meramente positiva não só dentro da escola, oratórios e ambientes salesianos, mas também para toda a sociedade civil que busca o bem comum e a harmonia entre todos.

CONCLUSÃO
A reflexão que eu fiz, quis mostra a tarefa que a importância da educação tem na formação da pessoa. Esse compromisso de transmitir uma educação moral, de trabalhar as virtudes não é somente dos pais, da escola ou de outra instância qualquer, mas um compromisso da sociedade como um todo e de todas as suas instituições políticas, jurídicas, midiáticas e também educacionais.
Afirmar isso representa alimentar certa utopia, no seu sentido negativo, uma vez que, no momento, nada indica que a sociedade venha a iluminar-se em todos os seus ambientes de um novo consenso de moralidade. A sociedade será sempre plena de contradições e é no interior delas que se estabelece a luta por práticas individuais e sociais que favoreçam o bem-estar e a felicidade de todos. É nessa perspectiva que deve ser vista a tarefa da educação moral realizada no interior da escola: uma tarefa árdua que se encontra entre paradoxais e contraditórias exigências. Para Kant, por outro lado, é a dificuldade de praticar o bem que é a verdadeira marca da virtude.  O caminho certamente não é nem curto nem fácil. Nem se deve imaginar que seja possível formar os sujeitos para depois termos uma sociedade mais moralizada.
O nosso Sistema Preventivo está voltado todo para isso, para a valorização da pessoa e isso se dá, a partir de uma formação sólida e coerente. Os nossos educandos são preparados pelo método do sistema preventivo, para que no futuro próximo, busquem acima de tudo a honestidade e generosidade social, política, religiosa, familiar, ecológica e relacional. A escola, em todos os seus níveis, tem uma fundamental contribuição a dar: promover a renovação moral do indivíduo e da sociedade, no sentido de uma ordem mais justa e cheia de prática de virtudes, a partir de um sistema eloquente e capaz de dar respostas ao tempo atual, que é o Sistema Preventivo.
REFERÊNCIAS
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______. Memórias do oratório de São Francisco de Sales: de 1815 a 1855.2. ed. São Paulo: Salesianas, 1999.
BOSCO, Giovanni. Regolamento delle opere della Societàdi S. Francesco di Sales. Torino: Tipografia Salesiana, 1877 p. 3-13; [OE XXIX, 99-109]. Disponível em: <http://www.sdb.org/PR/Documenti/2004/_5_10_6_4_1_.htm>. Acesso em: 10 maio 2017.
BOSCO, Terésio. Dom Bosco: uma biografia nova. São Paulo: Editora Salesiana, 2002.
BRAIDO, Pietro. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco. São Paulo: Editora Salesiana, 2005.
SCARAMUSSA, Tarcísio. O sistema preventivo de Dom Bosco: um estilo de educação. São Paulo: Editora Salesiana Dom Bosco, 1984.
PASSOS JUNIOR, Dilson. O ensino superior no Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL: discutindo sua identidade salesiana. 2011. 345 f. Tese (Doutorado em Educação) – UNIMEP, Piracicaba, 2011.
PEREIRA, Antonio. A educação social de rua é uma práxis educativa? Revista Ciências da Educação, Americana, ano XI, n. 21, 2º semestre, p. 481-500, 2009.
SANDRINI, Marcos. Dom Bosco e os jovens: um binômio inseparável. Porto Alegre: [s.n.], 2012.
SAVIANI, Dermeval. Entrevista: a educação fora da escola. Revista Ciências da Educação, Americana, ano XI, n.20, 1º semestre, p. 17-27, 2009.
INSPETORIA SALESIANA DE NOSSA SENHORA AUXILIADORA. Salesianos
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KANT. Immanuel. A Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Trad. Paulo Quintela: Grundlegung zur Metapysik der Sitten. Lisboa: ed. 70. 1997. 

______. Immanuel. Sobre a Pedagogia.  Tradução de Francisco Fontanella. 3. ed. Piracicaba: UNIMEP, 2002.

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