A IGREJA E O INDIVIDUALISMO
Um
dos trabalhos que a Igreja continua a promover é o de despertar inquietações -
primeiramente, nos seus membros, e, posteriormente, aos demais públicos - a
respeito da estrutura de Justiça desenvolvida em determinados países, assumindo
o papel de defender e promover a dignidade humana, lutando pelos direitos dos
mais necessitados, frente ao mundo marcado pelo individualismo, no qual a busca
pelos próprios interesses afeta o princípio de equidade apresentado e defendido
por Santo Tomás.
A
justiça está sempre relacionada a outrem, por isso torna-a Virtude que abrange
todas as outras. O mundo atual converge-se sempre mais para o individualismo
que é um dos problemas da esfera social que a igreja busca solucionar. Para tal
solução, primeiramente, defende a vida voltada à comunidade, ou seja, para o
bem de todos, que em primeiro lugar é a família e depois o ambiente em que se
vive, como uma forma de buscar solucionar o problema do individualismo.
Quando há uma visão egocêntrica,
também por parte de muitos cristãos, a justiça corre o risco de ser mero
“objeto” de uso. Caso os indivíduos que disfrutam de grande parte dos
benefícios dispensados pelo Estado, sofram algum mal, mesmo que em seu
conceito, o individualismo não seja um mal para com o outro, pois aqueles que
entendem o valor de cada indivíduo (aqui se tratando dos cristãos) permanecem
apáticos diante das situações individualistas de injustiça.
Outra
tentativa da Igreja para despertar inquietações frente à injustiça é o
Documento de Aparecida, no qual defende que:
O
destino universal dos bens exige a solidariedade com as gerações presentes e as
futuras. Visto que os recursos são cada vez mais limitados, seu uso deve estar
regulado segundo um princípio de justiça distributiva, respeitando o
desenvolvimento sustentável (DOCUMENTO DE APARECIDA. 2007, p.69).
Este
conceito de Justiça Distributiva defendida por Santo Tomás e que ganhou mais
vigor com as Encíclicas reforça
a importância dos direitos dos indivíduos, porém, tem em vista o bem comum, dá
a cada um o que lhe é devido, ajusta a discrepância que a desigualdade e o
individualismo imprimem.
Esta
palavra, “solidariedade”, é frequentemente esquecida ou silenciada, porque é
incômoda. “Solidariedade”... quase parece um palavrão! Eu queria lançar um
apelo a todos os que possuem mais recursos, às autoridades públicas e a todas
as pessoas de boa vontade comprometidas com a justiça social: não se cansem de
trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário! Ninguém pode permanecer
insensível às desigualdades que ainda existem no mundo! Que cada um, na medida
de suas possibilidades e responsabilidades, saiba dar sua contribuição para
acabar com tantas injustiças sociais! A cultura do egoísmo, do individualismo,
aquela que frequentemente regula nossa sociedade, não é a que constrói e conduz
a um mundo mais habitável, mas, sim, a cultura da solidariedade (FRANCISCO,
2017, p. 9).
A solidariedade é um caminho vasto, pelo qual a
Igreja, juntamente com seus membros, pode trilhar no anseio de transformar, ou
melhor, dar passos em busca de transformações, frente a uma injusta
distribuição causada também pelo individualismo. Pela fidelidade à voz da
consciência, os cristãos estão unidos aos demais homens, no dever de buscar a
verdade e de nela resolver tantos problemas morais que surgem na vida individual
e social. (PAULO VI, 1965).
REFERÊNCIAS
V
CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO e DO CARIBE. Documento de Aparecida. Disponível em:
< http://www.dhnet.org.br/direitos/cjp/a_pdf/cnbb_2007_documento_de_aparecida.pdf
>. Acesso em 17 out. 2017.
AQUINO, Tomás. Suma teológica. Trad.
Carlo- Josaphat de Oliveira et al. São Paulo: Loyola, 2005. V.6.
CONCÍLIO VATICANO II. 1962-1965. Gaudium et Spes: mensagens, discursos,
documentos. Tradução de Francisco Catão. São Paulo: Paulinas.
FRANCISCO: Evangelii Gaudium.
Disponível em: <https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20131124_evangelii-gaudium.html>.
Acesso em: 20 set. 2017.
FRANCISCO,
O amor é contagioso: o Evangelho da
justiça. Org. Anna Maria Foli. – 1ª ed. – São Paulo: Fontanar, 2017.
MONTICELLI,
Pedro: justiça em Santo Tomás de Aquino. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Mtsfpm-HCco>.
Acesso em: 01 set. 2017.
REALE,
Miguel. Filosofia do direito. 9. ed.
São Paulo: Saraiva, 1999.
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