A Antropologia da Esperança
A Antropologia
da Esperança
O homem, no decorrer dos séculos,
caminhou em busca de responder aos seus questionamentos, ora sobre si, ora
sobre a natureza. Contudo, hoje, podemos nos questionar: O que é preciso para
se construir uma antropologia que dê ao homem uma esperança? Este questionamento
se dá devido à falta de esperança inserida no cotidiano atual, onde cada vez
mais o homem se afasta da sua natureza comum, que é a de ser humano, e de um
princípio de esperança. Em busca de compreender um caminho possível para a
antropologia da esperança, será utilizado o Documento de Aparecida, Capítulo
VIII, p. 176 e a Carta Sobre o Humanismo de Martin Heidegger, p. 24,
fundamentando assim o caminho para a esta construção, com argumentos
filosóficos e cristãos.
Iniciaremos com
a perspectiva filosófica de Heidegger. Para este, o uso da linguagem é
essencial na construção humana, pois, quando o “pensamento restitui ao ser algo
que lhe foi entregue pelo próprio ser, como algo que lhe foi entregue pelo
próprio ser. Essa restituição consiste em que, no pensamento o ser se torna
linguagem. A linguagem é a casa do ser”. (HEIDEGGER, 1967, p. 24). Esta
prerrogativa, além de mostrar um dos pontos da essencialidade do homem, mostra
também que dentro do conjunto da história, ele é ser-com-os-outros, ou seja,
através da linguagem, ele tem nela uma forma de se expressar. Desta
prerrogativa, pode-se diferenciar o ser-aí, das outras coisas, já que o
pensamento age enquanto pensa e toda a produção se funda no ser e se dirige ao
ente, fazendo com que as coisas que estão no mundo estejam "à
disposição" do ser-aí, o homem que pensa, age e se expressa.
Em outra frente,
o Documento de Aparecida, mostra como ponto chave para a comunidade humana a
centralidade no anuncio do evangelho e da Boa Nova, pregada por Jesus Cristo e
apresenta as dimensões da presença de Deus no meio do povo como centralidade na
construção de uma realidade comum, que são: “a vivência pessoal e comunitária
das bem-aventuranças, a evangelização dos pobres, o conhecimento e cumprimento
da vontade do Pai, o martírio pela fé e o acesso de todos aos bens da criação”.
(DAp, 2008, p. 172). Essa afirmação vai de encontro com uma cultura de descarte
e de desvalorização da pessoa, que tem ganhado fôlego na atualidade e convida a
comunidade cristã para que de forma urgente comunique aos povos a “vida plena e
feliz que Jesus nos traz, para que cada pessoa humana viva de acordo com a
dignidade que Deus lhes deu”. (DAp, 2008, p. 176)
Diante das duas
perspectivas, é possível encontrar um ponto comum: a linguagem. Esta é
utilizada para diferenciar o homem das outras criaturas e também para comunicar
ao mundo a Boa-Nova do Evangelho, que prega a dignidade da pessoa como um todo
nas palavras de Jesus Cristo. Com isso, podemos olhar para a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, que tem em sua essência elementos da doutrina
cristã e utiliza-se da linguagem para comunicar-se ao mundo de uma maneira
integral. Ao deparar-se com ela e pelo caminho que foi
construído para se chegar até o resumo documental que é apresentado, nota-se um
conjunto de ética, de valores e de comunicação que são convencionalizados entre
uma comunidade que tem uma finalidade objetiva e dentro desta realidade procura
desenvolver ações, regras e em certos momentos da história imposições que procurem
viver de uma forma universalizada os princípios norteadores da vida e da
realidade comum.
Estes princípios foram norteadores para
a formação de uma enorme comunidade que visa o bem da raça humana, embora que
em algumas partes do mundo estas normativas universais levem em consideração
apenas pequenos grupos de pessoas, visto que ainda hoje, décadas após o
lançamento da DUDH, milhões de pessoas morrem de fome e de sede ou em conflitos
travados por interesses financeiros. Visando tudo isso, cabem os seguintes
questionamentos: Pode-se pregar uma moral humana universal sendo que existem
pessoas excluídas e tratadas como objeto de descarte? O que é preciso para se
construir uma antropologia que dê ao homem uma esperança? As respostas vão além de só ler a Declaração,
mas sim, compreender que sendo filhos de Deus, dotados de linguagem e
construtores da esperança, possam fazer com que a comunidade humana alcance o
real e comum objetivo: garantir a sobrevivência e a dignidade indissolúvel do ser
humano.
REFERÊNCIAS
CONFERÊNCIA
GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO CARIBE, 5. 2007. APARECIDA – BRASIL. Discípulos e missionários de Jesus Cristo
para N´Ele nossos povos tenham vida: Texto conclusivo da V Conferencia
Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. São Paulo: Paulinas, 2008. p.
176.
DIREITOS
HUMANOS: História, fundamentos e
críticas. Disponível em: <https://direitoeliberdade.jusbrasil.com.br/artigos/142841209/direitos-humanos-historia-fundamentos-e-criticas>.
Acesso em 10 jun 2017.
HEIDEGGER,
Martin. Sobre o Humanismo. Tradução
de Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967.
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