2.      Virtude na Ética a Nicômaco

Eduardo Augusto Rosa de Matos[1]


Segundo Aristóteles, o tema da virtude “é uma melhor investigação sobre a felicidade” e “é campo de estudo do verdadeiro político.” (ARISTÓTELES, 2001, p. 28.) A virtude a ser investigada é a virtude do homem, pois se busca o bem e a felicidade humanos. Virtude não a do corpo, mas a da alma, porque a felicidade é uma operação da alma.
A alma para Aristóteles é dividida, uma irracional e a outra pertencente à razão. Parte da alma irracional parece comum e vegetativa, ligada à nutrição e ao crescimento e não pertence à virtude humana e a outra parte da alma irracional (sensível) participa de algum modo da razão. A parte da alma que tem a razão é a que se inclui na excelência humana, pois o homem é um animal racional e nisso exclusivamente se difere dos demais animais. Conclui-se, então, que a alma tem “dupla natureza: uma participa do princípio racional no sentido próprio do termo e em si, ao passo que a outra parte terá a tendência de obedecer-lhe como um filho obedece ao pai.” (ARISTÓTELES, 2001, p. 30).
De acordo com a investigação aristotélica, “[...] a atividade virtuosa, essa deve necessariamente agir e agir bem.” (ARISTÓTELES, 2001, p. 21), a virtude é fruto do esforço e hábito humanos.

2.1 Tipos de virtudes

A partir da diferença da alma, o autor da Ética a Nicômaco, separa dois tipos de virtudes:
Dizemos, pois, que algumas são [5] intelectuais e outras são morais e, assim, a sabedoria, a inteligência, a prudência são intelectuais, mas a liberalidade e a temperança, são morais. Falando, pois, sobre os [hábitos] morais, não dizemos que alguém é sábio ou inteligente, mas que é manso ou temperante. Todavia, também louvamos o sábio pelo hábito. E os hábitos louváveis dizemos [10] virtudes. (AQUINO, 2015, p. 164).

Há duas espécies de virtude, a intelectual (dianoética) e a moral (éthos - atos). Uma tem sua origem e crescimento a partir da instrução, ao passo que a virtude moral é adquirida pelo costume, pelo hábito e não gerada em nós por natureza. São as virtudes morais que fixa-se o interesse da investigação aristotélica.

Um homem dotado de virtudes morais é o que pode ser chamado de homem virtuoso e de homem bom [...] Qualquer coisa que nos vem, de fato, por natureza, primeiro recebemos suas potências, mas, depois, praticamos as operações delas [...]. Adquirimos as virtudes primeiro por praticá-las [...]. (AQUINO, 2015, p.174).

“A expressão ‘por natureza’ é entendida aqui como princípio de necessidade.” (SILVEIRA, 2000, p. 4). Assim,

O ato de respirar não torna um homem bom e tampouco mau. O ato de respirar é um corportamento natural e, portanto, caracteriza-se como um comportamento necessário. Não é facultado ao homem escolher entre respirar ou deixar de respirar. Ele já nasce com mecanismos naturais que o impelem a fazê-lo e ele nada pode fazer para mudar isso. (SANTOS, 2001, p.1).

São as virtudes práticas, no que diz respeito aos homens, que os tornam justos ou injustos. A principal investigação sobre as virtudes está no âmbito das ações: como se deve praticá-las e como delas se produz o hábito; a saber: deve-se agir de acordo com a reta razão.
A investigação aristotélica aprofunda-se a cerca da virtude: “[...] são três coisas que ocorrem na alma, as paixões, as potências e os hábitos, algumas dessas certamente será a virtude.” (AQUINO, 2015, p 202). As paixões são sentimentos que podem aflorar em quaisquer homens. As potências representam as capacidades que os homens possuem por natureza, inclusive de sentirem as paixões. As paixões e as potências têm cunho natural e não são critérios de juízo entre ruim e bom.
Finalmente, restam os hábitos e são neles que reside a virtude moral. Os hábitos, ou ainda podem ser chamados de disposições, representam estados de caráter e definem o modo como o homem utiliza suas potencialidades e se relaciona com suas paixões. “A virtude moral pertence, pois ao gênero das disposições do homem”. (AQUINO, 2015, p. 182). E esta disposição visa à mediania, pois é na escassez e no excesso que se corrompe a natureza das virtudes. Assim:

Todo que sabe evita o excesso e a escassez, busca o meio-termo e o deseja, não, porém, o meio-termo da coisa, mas o que se refere a nós..., pois tanto o excesso como a escassez corrompem o bem, mas o meio-termo salva.  (AQUINO, 2015, p. 211).

O meio-termo em relação às coisas é um ponto equidistante entre dois extremos e é um e mesmo para todos os homens, porém o meio-termo em relação aos homens é relativo, variável entre dois extremos, sendo diferentes para diferentes homens.
Portanto, a virtude é um hábito eletivo que existe no meio-termo [1107a] [1] que nos é determinado pela razão, que certamente será determinado pelo sábio. No entanto, a virtude é um meio-termo entre dois vícios, dos quais um é, pois, conforme o excesso, porém o outro é conforme a escassez.  (AQUINO, 2015, p. 218).




[1] Aluno do primeiro semestre do curso de Filosofia do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL) – Unidade Lorena. Este trabalho foi orientado pelo o Prof. Esp. Douglas Rodrigues da Silva.

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