As Formas de Governo Apresentadas no Livro VIII da República de Platão



Brendo dos Santos Lima[1]

Resumo: Em seu diálogo, Platão apresenta o perfil dos modelos governamentais que existiram e que existem e procura dentre suas características mostrar a seus interlocutores como tais formas não foram condizentes com a realidade vivida pelo seu povo, desde a Timocracia até a Tirania, trazendo suas características e seus erros. Com isso Platão formula o conceito do modelo de cidade ideal, a Aristocracia Intelectual, onde todos seriam conduzidos por um homem hábil e intelectual, o Rei-Filósofo que teria a missão de conduzir o povo como o pastor conduz as suas ovelhas.

Palavras-chave: Platão; Timocracia; Oligarquia; Democracia; Tirania.

Sumário: Introdução. 1. O Governo da Timocracia. 2. O Governo da Oligarquia. 3. O Governo da Democracia. 4. O Governo da Tirania. Conclusão. Referências.

Introdução
O Caminho para conseguir chegar a uma forma de governo que abarque e seja aceito por todos, é um difícil percurso a ser feito. Durante muitos anos, principalmente na Grécia antiga, especificadamente à época de Platão essa discussão veio à tona.
No Livro VIII da República, Platão traz a reflexão sobre o modelo de cidade ideal e para isso começa a construir uma estrada que passa por todas as formas de governo que existiram e que existem, na realidade platônica, analisa quais são as características, erros e virtudes desses modelos governamentais.
A proposta de Platão, através de seu personagem Sócrates, é delimitar e classificar a forma de governo que seria a mais justa e a partir daí fazer questionamentos sobre a felicidade ou a infelicidade de seus cidadãos, o caminho que o povo teve que trilhar da escravidão à democracia e depois o retorno à escravidão.
Por fim Platão vem reafirmar que todas as formas de governo eram corruptas e que não eram capazes de formular um novo conceito de polis, que segundo ele deveria ser governada por um Rei-Filósofo, que assumiria o papel de pastor e iria conduzir seu povo, fazendo uma analogia com as ovelhas que são conduzidas e levadas por uma única pessoa, formando assim uma Aristocracia Intelectual, onde apenas os bons filósofos poderiam gerir o governo local. É o que vai ser analisado, a seguir.

1 O Governo da Timocracia

Ao Descrever as quatro formas de governo, Platão define entre uma delas a Timocracia (timos – honras/ cracia- governo). Esse regime constitucional é baseado no princípio de que os direitos e os deveres do cidadão são estabelecidos com base no consenso, portanto é caracterizado por uma explícita ambição e por um obscuro amor pelo dinheiro (CASERTANO, 2011, p. 26). Esse governo tem as honras como seu princípio dominante e os senhores de terra como seus líderes. Afirma também que essa forma de governo é a que mais se aproxima do modelo perfeito de administração para a cidade-estado.
A sociedade regida por essa forma de governo deve se basear unicamente, segundo Platão, como uma sociedade unitária que busca honras, onde os seus habitantes se protegem simultaneamente, tendo como líderes homens justos, que velem pela segurança da cidade e dos seus cidadãos, dando exemplos a partir da sua própria vida. Esses não poderiam possuir vícios e deveriam ter controle sobre seus sentimentos, para poder dedicar-se inteiramente ao serviço em favor da polis, devendo antes passar por treinamento e educação necessária para alcançar tal aprendizado. Eis, então, o que afirma Platão, a respeito disso:
[...]Os Chefes, assim que forem nomeados, conduzirão e instalarão os soldados nas habitações que anteriormente referimos, que nada têm de próprio para ninguém, mas são comuns a todos. Além da espécie de moradas, chegamos também a acordo, se bem te lembras, sobre os bens que poderiam ter. Decerto [...] nenhum devia possuir nada do que actualmente têm os demais, mas que como atletas, guerreiros e guardiões receberão dos outros, como salário de sua guarda, a alimentação necessária para um ano, enquanto eles velam por si e por toda a cidade. (PLATÃO, 1987, p. 363).

Começando desde a infância a ter treinamentos ordenados para tal finalidade, o indivíduo era preparado para ser desprendido das coisas materiais, tendo unicamente a razão como ponto chave para suas decisões e atitudes. Este modelo de sociedade é, para Platão, a forma ideal de administração para as cidades-estado, onde o sábio governaria e faria um governo em favor de todos.
            O Governo Timocrático é uma ponte entre a aristocracia e a oligarquia, visto que delas tem vários pontos em comum: desde a veneração pelos chefes, à aversão da classe dos guerreiros pela agricultura, pela refeição feita em comum e a preocupação com a ginástica, a valorização da guerra, o amor e a ambição pelas riquezas e a construção de reinos particulares. Essa ponte começa a ruir-se quando ela deixa de ser intermediária e passa unicamente para a plena posse de bens, a divisão de terras e a conquista de honras, fazendo assim que haja discórdia entre seus membros, visto que a comunidade terá opinião contrária à de seus governantes.




1Aluno do 1º semestre do curso de Filosofia do Centro Unisal  U. E. Lorena. Este trabalho foi orientado pelo Prof. Dr. Lino Rampazzo

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