As Formas de Governo Apresentadas no Livro VIII da República de Platão
Resumo: Em seu diálogo, Platão apresenta
o perfil dos modelos governamentais que existiram e que existem e procura
dentre suas características mostrar a seus interlocutores como tais formas não
foram condizentes com a realidade vivida pelo seu povo, desde a Timocracia até
a Tirania, trazendo suas características e seus erros. Com isso Platão formula
o conceito do modelo de cidade ideal, a Aristocracia Intelectual, onde todos
seriam conduzidos por um homem hábil e intelectual, o Rei-Filósofo que teria a
missão de conduzir o povo como o pastor conduz as suas ovelhas.
Palavras-chave: Platão; Timocracia; Oligarquia;
Democracia; Tirania.
Sumário: Introdução. 1. O Governo da
Timocracia. 2. O Governo da Oligarquia. 3. O Governo da Democracia. 4. O
Governo da Tirania. Conclusão. Referências.
Introdução
O
Caminho para conseguir chegar a uma forma de governo que abarque e seja aceito
por todos, é um difícil percurso a ser feito. Durante muitos anos,
principalmente na Grécia antiga, especificadamente à época de Platão essa
discussão veio à tona.
No
Livro VIII da República, Platão traz a reflexão sobre o modelo de cidade ideal
e para isso começa a construir uma estrada que passa por todas as formas de
governo que existiram e que existem, na realidade platônica, analisa quais são
as características, erros e virtudes desses modelos governamentais.
A
proposta de Platão, através de seu personagem Sócrates, é delimitar e
classificar a forma de governo que seria a mais justa e a partir daí fazer
questionamentos sobre a felicidade ou a infelicidade de seus cidadãos, o
caminho que o povo teve que trilhar da escravidão à democracia e depois o
retorno à escravidão.
Por
fim Platão vem reafirmar que todas as formas de governo eram corruptas e que
não eram capazes de formular um novo conceito de polis, que segundo ele deveria
ser governada por um Rei-Filósofo, que assumiria o papel
de pastor e iria conduzir seu povo, fazendo uma analogia com as ovelhas que são
conduzidas e levadas por uma única pessoa, formando assim uma Aristocracia
Intelectual, onde apenas os bons filósofos poderiam gerir o governo local. É o
que vai ser analisado, a seguir.
1 O Governo da Timocracia
Ao
Descrever as quatro formas de governo, Platão define entre uma delas a
Timocracia (timos – honras/ cracia- governo). Esse regime
constitucional é baseado no princípio de que os direitos e os deveres do
cidadão são estabelecidos com base no consenso, portanto é caracterizado por
uma explícita ambição e por um obscuro amor pelo dinheiro (CASERTANO, 2011, p.
26). Esse governo tem as honras como seu princípio dominante e os senhores de
terra como seus líderes. Afirma também que essa forma de governo é a que mais
se aproxima do modelo perfeito de administração para a cidade-estado.
A sociedade regida por essa forma
de governo deve se basear unicamente, segundo Platão, como uma sociedade
unitária que busca honras, onde os seus habitantes se protegem simultaneamente,
tendo como líderes homens justos, que velem pela segurança da cidade e dos seus
cidadãos, dando exemplos a partir da sua própria vida. Esses não poderiam
possuir vícios e deveriam ter controle sobre seus sentimentos, para poder
dedicar-se inteiramente ao serviço em favor da polis, devendo antes passar por
treinamento e educação necessária para alcançar tal aprendizado. Eis, então, o
que afirma Platão, a respeito disso:
[...]Os Chefes, assim que forem
nomeados, conduzirão e instalarão os soldados nas habitações que anteriormente
referimos, que nada têm de próprio para ninguém, mas são comuns a todos. Além
da espécie de moradas, chegamos também a acordo, se bem te lembras, sobre os
bens que poderiam ter. Decerto [...] nenhum devia possuir nada do que
actualmente têm os demais, mas que como atletas, guerreiros e guardiões
receberão dos outros, como salário de sua guarda, a alimentação necessária para
um ano, enquanto eles velam por si e por toda a cidade. (PLATÃO, 1987, p. 363).
Começando
desde a infância a ter treinamentos ordenados para tal finalidade, o indivíduo
era preparado para ser desprendido das coisas materiais, tendo unicamente a
razão como ponto chave para suas decisões e atitudes. Este modelo de sociedade
é, para Platão, a forma ideal de administração para as cidades-estado, onde o
sábio governaria e faria um governo em favor de todos.
O Governo Timocrático é uma ponte
entre a aristocracia e a oligarquia, visto que delas tem vários pontos em
comum: desde a veneração pelos chefes, à aversão da classe dos guerreiros pela
agricultura, pela refeição feita em comum e a preocupação com a ginástica, a valorização
da guerra, o amor e a ambição pelas
riquezas e a construção de reinos particulares. Essa ponte começa a ruir-se
quando ela deixa de ser intermediária e passa unicamente para a plena posse de
bens, a divisão de terras e a conquista de honras, fazendo assim que haja
discórdia entre seus membros, visto que a comunidade terá opinião contrária à
de seus governantes.
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