Projeto na escola: Immanuel Kant e a dignidade da pessoa humana: perspectivas de um projeto de vida para estudantes do Ensino Médio

Immanuel Kant e a dignidade da pessoa humana: perspectivas de um projeto de vida para estudantes do Ensino Médio

Introdução


A constante evolução do mundo moderno transformou de forma definitiva a compreensão do sujeito e suas relações com os demais seres humanos. Em cerca de meio século nossas concepções fundamentais a respeito da vida, do mundo, do sentido das coisas, da felicidade, foram alteradas drasticamente. A sociedade cada vez mais pautada na máxima consumista, onde o sentido da vida gravita em torno da possibilidade de adquirir bens materiais, se esvaiu de sentido, o projeto das pessoas se baseia unicamente na efemeridade, no narcisismo e no niilismo. Os seres humanos passaram a encarar seus iguais como concorrentes e não como semelhantes. O fator da informatização também fez com que um verdadeiro abismo fosse aberto no que se entendia como relação.
Neste contexto cada vez mais individualista, onde tudo se baseia em uma visão utilitarista, o papel do educador deve transpor os meros limites do conteúdo e tocar naquilo que é o ponto fundamental da crise da educação contemporânea, a ideia de que a escola deve ser uma doadora de conceitos e o professor um administrador das doses desse saber meramente conceitual. E ainda mais, trilhar com os alunos um caminho que os leve a entender a urgente necessidade de valorizar a própria vida e o quão é necessário ter um projeto de vida que unifique seus anseios e suas expectativas perante a vida.
O projeto está baseado na filosofia de Immanuel Kant (1724 -1804), procuramos estabelecer uma delimitação em torno da visão kantiana de dignidade da pessoa humana, uma vez que este filosofo fornece muitas das bases para o atual entendimento do que se pode dizer como direito dos sujeitos. A aplicação do projeto visa atingir o público do ensino médio estudantes do Colégio Salesiano São Joaquim de Lorena – SP.


Justificativa

        

É preciso compreender que todos os processos apoiados no niilismo e no individualismo levaram ao governo de nossa sociedade dois “reis”: a dor e o prazer. Esse fato é inteiramente verificável em nosso cotiado e muito embora saibamos que a dor é um elemento palpável e visível a mesma sociedade regida pelos dois reis continua “anestesiando” seus cidadãos no mero intuito de fazer com que unicamente o prazer seja verificável. Um prazer pautado na ideia de que toda a dor pode ser resolvida em uma vida levada com o sentido da “ausência de sentido”.
Diante dessa situação preocupante é preciso ajudar a juventude, uma parcela tão preciosa da sociedade, a enxergar a importância da própria vida e da vida de seus semelhantes. Desta forma, propomos um projeto baseado na ideia fundamental da dignidade da pessoa, com o tema: Immanuel Kant: Dignidade da pessoa humana, perspectivas de um projeto de vida para estudantes do Ensino Médio.”
Acreditamos que a irreflexão a respeito da dignidade da pessoa é a causa basilar de tantos problemas na atual sociedade; dessa irreflexão provém a ausência de um projeto de vida, os jovens vivem pelo mero acaso, nada os norteia, a única coisa que os faz viver são ambições mesquinhas com sabor de felicidade. É preciso entender a vida como um todo e não como um amontoado de fatos casuais, é preciso levar em conta as diversas dimensões do sujeito e o quanto a vida de uma única pessoa está entrelaçada com a existência de uma gama de outros sujeitos.
Elementos fundamentais a serem trabalhos no processo de reflexão dos educandos são: o âmbito pessoal, profissional, interativo, espiritual e político-social. No Pessoal vamos trabalhar o “eu” e as implicações da interpretação de sujeito que podem gerar o problema do individualismo, no profissional a interação relacional dos sujeitos no mundo, no interativo a relação mais direta com o outro, os aspectos fundamentais da família, do grupo de amigos, no espiritual pretendemos focar a relação do sujeito com a transcendência e como essa relação interfere e permeia todas as dimensões da pessoa, e no político-social vai ser trabalhado a relação do “Nós”. Depois de favorecer a compreensão de cada um como sujeito, suas relações com os outros, sua necessidade do transcendente é preciso pensar um pouco no comum, como podemos estar inseridos com nosso projeto em um projeto maior de vida social. Cada aspecto desse trabalho pretende fornecer elementos para que no fim o jovem do ensino médio entenda sua vida e a dignidade dela inserida em um todo.
Por fim, depois de toda a exposição realizada cremos que está clara a necessidade de enfocar a importância da valorização da vida dos sujeitos e também valorizar o projeto de cada jovem para que obtenha elementos para traçar metas afim de dar sentido a seus atos. Essa valorização do projeto individual do sujeito se dá com o enfoque na importância de se entender a singularidade de cada um que, embora tenha por pressuposto a realização inserida em um todo, cada pessoa a realiza também partindo das particularidades de cada um.


Objetivo Geral

Apresentar os conceitos de Immanuel Kant sobre a dignidade da pessoa humana na sua obra Fundamentação da metafísica dos costumes e a construção da moralidade do agir humano, enfatizando a importância da elaboração de um projeto de vida.

Objetivos Específicos

Ø    Enxergar o outro como uma pessoa humana dotada de dignidade;
Ø    Favorecer a conscientização da importância de organizar um projeto de vida que favoreça o desenvolvimento pessoal e a relação com os outros;
Ø    Incentivar a formação continua e revisão do projeto de vida  de uma forma sistematizada.


















Fundamentação Teórica


Dignidade da pessoa humana na obra fundamentação da metafísica dos costumes de Kant.


Na obra Fundamentação da Metafísica dos Costumes de Immanuel Kant é possível ver claramente uma preocupação com o entendimento da dignidade da pessoa. A questão basilar da obra se encontra sinteticamente na pergunta “O que devo fazer para ser bom e agir corretamente?” Para Kant a resposta desta pergunta vem através da boa vontade de agir que se encontra na mente e é a priori, ou seja, não tem necessidade da experiência para que apareça na pessoa, essa boa vontade que irá gerar uma máxima (ação) que deverá ser universalizada.
Kant trabalha a questão do dever por dever, livre de qualquer inclinação que seja marcada pela auto renúncia que é o amor-próprio, para se chegar a uma universalização, contudo esse dever não pode ser feito empiricamente e sim racionalmente, através da razão, podemos chegar a uma ação aceitável.
Por isso, o conceito moral tem a sua sede e origem completamente a priori na razão independente da pessoa. Kant defende que o conhecimento não pode ser colocado como um elemento aprendido simplesmente pela experiência, mas existe algo de natural naquilo que se refere a razão humana, já temos algo conosco ao nascer, o postulado kantiano em relação a isso é que a capacidade de se adquirir conhecimento é algo a priori no ser humano. É notória a intenção de Kant quando coloca esse conceito moral como elemento a priori, é mais uma vez a tentativa de universalizar um conceito para atingir todos os homens independentemente de seu tempo ou contexto.
Na segunda seção Kant faz uma menção do que mais tarde deve ser desenvolvido como conceito de dignidade humana:

A vontade é concebida como a faculdade de se determinar a si mesmo a agir em conformidade com a representação de certas leis. Ora aquilo que serve à vontade de princípio objetivo da sua auto determinação é o fim (ZWECK), e este, se é dado pela só razão, tem der válido igualmente para todos os seres racionais. (KANT, 2007, p.67)


Temos aqui a constatação que Kant fornece um conceito de dignidade da pessoa. Contudo, a obra em questão é dedicada a problemática da ação moral. É na racionalidade que Kant percebe que o ser humano deve ser considerado um fim em si mesmo, pois, não é um ser utilitário. Por isso, o homem não poderá ser usado com algum objetivo e sim um ser dotado de dignidade. Aqui podemos situar a crítica kantiana da sociedade utilitarista, baseada na possibilidade lucrativa.

Ademais, disse o filósofo, se o fim natural de todos os homens é a realização de sua própria felicidade, não basta agir de modo a não prejudicar ninguém. Isto seria uma máxima meramente negativa. Tratar a humanidade como um fim em si implica do dever de favorecer, tanto quanto possível, o fim de outrem. Pois, sendo o sujeito um fim em si mesmo é preciso que os fins de outrem sejam por mim considerados também como meus” (COMPARATO, 2003, p.23.)

Por isso, a racionalidade é um dos elementos que conferem a dignidade da pessoa. Não podemos esquecer de outro elemento que compõe a dignidade que é a “autonomia da vontade” esta vai direcionar a moralidade do homem. A autonomia é uma regra individual, que pode vir a ser uma ação coletiva (universal). Para além de todos os aspectos já evidenciados Kant procura sempre estabelecer uma questão, em seu entendimento, primordial para qualquer tentativa de entendimento do seu pensamento em relação a pessoa, essa questão é a importância de entender a pessoa como ser não manipulável, justamente por ser dotada de razão.
Portanto, a dignidade em Kant, é construída nessa perspectiva da finalidade do homem em si mesmo com a autonomia da vontade. Esse postulado kantiano é extremamente racional, visto que a razão é a justificativa para que se veja o outro como ser digno. Certamente encontramos aqui a grande guinada dada por Kant em relação ao pensamento da idade média e anterior a este no qual Deus (ou um deus) era a fonte da dignidade do homem, uma vez que a sacralidade e a dignidade da pessoa estavam ligadas a semelhança entre a pessoa e Deus, o eixo da dignidade agora é deslocado para a razão.

O conceito de utilitarismo de Bentham e Mill


Essa doutrina filosófica foi introduzida por Jeremy Bentham (1748-1832) na obra Introdução aos princípios da moral e legislação (1789). Ele trabalha dois elementos o prazer e a dor que são os norteadores do que é certo ou errado, cada coisa só seria avaliada perante a possibilidade de proporcionar dor ou prazer no sujeito.
A felicidade deve ser maximizada e fazer com que o prazer sobreponha a dor. Deste ponto de vista a felicidade é mais um elemento utilitarista da “sociedade anestesiada” que tem a função simplista de barrar a dor. Essa ideia de maximização do prazer (em um entendimento errôneo em relação a felicidade) não deveria ser algo restrito aos homens comuns, mas deveria nortear os legisladores, estes deveriam criar leis que viabilizassem o maior prazer possível ao maior número de pessoas.
Bentham (1984) é contra os direitos naturais e estes não têm sentido para ele. Não era possível conciliar tais ideias com o seu empirismo. Seu pensamento deveria não só prevalecer com o povão, mas também com os legisladores, que deveriam criar leis que trouxessem o maior prazer possível a população. Essa necessidade de o maior número de pessoas com prazer é para resolver o problema da falta dos direitos naturais. Duas críticas são feitas ao seu pensamento: A não aceitação dos direitos naturais e a supressão dos direitos individuais (inclusive a dignidade) tendo só o prazer e a dor com as suas intensidades de duração.
John Stuart Mill (1806-1873) em sua obra Utilitarismo e Sobre a Liberdade (1869) mostra os vários tipos de prazer e que uns são mais desejados e valorosos do que outros. Não há nenhuma implicação moral em Mill quando se trata do prazer, assim a escolha deve ser feita pela quantidade e qualidade desse prazer, rompendo com o direito individual.
A sociedade e o governo não podem intervir na liberdade do indivíduo que está manifestada em suas escolhas. No que se refere a si o indivíduo possui independência absoluta em relação ao próprio corpo e a própria mente, sendo soberano de si.
A defesa dos direitos individuais é a distinção entre Mill e Bentham. Mesmo que a tutela da liberdade seja desejada ela não pode ser concretizada em garantias de direitos individuais, pois essa afirmação do direito do indivíduo poderia causar um mal na sociedade, uma vez que a pessoa dotada desse direito particular poderia não entender a necessidade dos outros possuírem tais direitos. Mesmo mais aberto do que Bentham, o raciocínio fica consequencialista, o horizonte utilitarista não permite que a visão ultrapasse a mera busca de prazer e chegue ao entendimento dos direitos individuais.
 A constante crença da relação entre o crescimento da técnica e a humanização das pessoas trouxe-nos para uma realidade pautada na utilidade das coisas e da oportunidade de lucro. Desta forma só nos é válido o que se pode contabilizar e do que se pode extrair lucro. Essa visão está diretamente ligada a esse utilitarismo nascido de um contexto social em que os outros e a natureza são apenas fontes de renda, coisas a serem exploradas, dominadas e de onde o lucro deve ser extraído. Somos todos filhos de nosso tempo e podemos observar que nosso século está imerso na realidade utilitarista. Neste ponto não podemos deixar de enumerar as diversas situações em que se verifica a utilidade defendida como bem comum entrando em ação. Tantas vezes vemos pessoas sendo exploradas, sendo desprovidas de sua dignidade, tendo seus direitos básicos tolhidos unicamente em nome do dito “bem comum”, quando na verdade essa ideia é apenas baseada na possibilidade da obtenção de lucro.
 Se avançamos para o campo do meio ambiente a situação é tão alarmante que parece que chegamos ao nível crítico de exploração. Neste aspecto o papa Francisco em sua mais recente encíclica a laudato si (2015), chama a atenção para essa situação de exploração travestida de busca do progresso e do bem comum:
A contínua aceleração das mudanças na humanidade e no planeta junta-se, hoje, à intensificação dos ritmos de vida e trabalho, que alguns, em espanhol, designam por “rapidación”. Embora a mudança faça parte da dinâmica dos sistemas complexos, a velocidade que hoje lhe impõem as ações humanas contrasta com a lentidão natural da evolução biológica. A isto vem juntar-se o problema de que os objetivos desta mudança rápida e constante não estão necessariamente orientados para o bem comum e para um desenvolvimento humano sustentável e integral. A mudança é algo desejável, mas torna-se preocupante quando se transforma em deterioração do mundo e da qualidade de vida de grande parte da humanidade.” (FRANCISCO, 2015, nº 18 p.6)

Não obstante toda a realidade da situação ambiental é preciso entender que praticamente a mesma situação preocupante expressa pelo papa se aplica a situação das relações humanas.
Cremos que na prática pedagógica quando construímos um projeto junto com os alunos eles são capazes de adotar os princípios fundamentais expostos na proposta do projeto, por isso valorizamos a construção em grupo, não um projeto meramente elaborado por nós para ser aplicado com eles. Portanto, o projeto de vida quer demonstrar com a sua construção que a vida deve ter sentido, que a vida de cada sujeito deve ser entendida como dádiva singular na história do mundo e das pessoas, o outro é importante para mim, não pelo que poderia ser útil, mas pelo simples fato desse outro ser um ser humano dotado de racionalidade e dignidade como nós somos. O outro não é apenas outro, é meu semelhante, e para eles, os “outros” podemos ser nós.

Projeto de vida e sua construção para dignidade humana


Cada ser humano traz em si desde o momento de seu nascimento uma novidade singular para o mundo, justamente pelo fato de que cada pessoa é especialmente individual. O cristianismo afirma que fomos criados por Deus, e que Ele nos deixou uma tarefa não muito fácil, a tarefa de participarmos da constante criação e transformação do mundo, embora essa crença seja professada por um credo específico, temos consciência da importância de mostrarmos aos alunos que devemos ser agentes transformadores da realidade. Com a elaboração do projeto de vida queremos levar os alunos a pensar não unicamente no sentido de sua vida, mas a pensar no legado individual que cada um pode deixar as novas gerações.
Passamos a vida a nos organizar com os afazeres, viagens, preocupações, aceitar ou rejeitar nossas próprias frustrações como caminhos de crescimento pessoal, nos empenhamos em sonhar segundo os valores adquiridos durante a vida, no entanto, é nessa aventura sagrada que vamos experimentar as mais variadas situações, que, boas ou não, vão sempre gerar marcas indeléveis em nossa forma de encarar o mundo e as pessoas. A ausência de um projeto de vida que direcione e forneça metas para cada indivíduo acaba por produzir pessoas cada vez mais vazias de humanidade, incapazes de compreender suas próprias limitações e, consequentemente, as limitações de seu semelhante.
Sabemos que o processo de crescimento sempre causa modificações nos planos traçados anteriormente, sempre mudamos nossa forma de entender as coisas, consequentemente nossos gostos e anseios, portanto, em nosso trabalho trataremos de esclarecer que o projeto de vida, ainda que trace metas a serem atingidas, é um projeto em aberto, algo que constantemente está sendo construído, feito e desfeito, pode parecer algo coberto de indecisão, mas é justamente a esse processo de indecisão que atribuímos o nome de experiência de vida.
Dom Bosco[1] (1815 - 1888) entendia que os jovens precisavam de um rumo em suas vidas, não bastava dar a eles o saber técnico, nem proporcionar-lhes um trabalho ou dar-lhes um teto, era preciso mais, era preciso orientar cada jovem para o entendimento do próprio valor, e em consequência disto o fazer perceber que era preciso pensar na vida a longo prazo, entender que o horizonte de planejamento da própria vida deveria ultrapassar os meros limites materiais e adentrar no sentido da dignidade pessoal, no respeito a si e aos outros, garantindo assim o entendimento da importância do outro como semelhante e da própria vida.
Expostos esses pressupostos é preciso dizer que iremos adentrar nas seguintes questões, entendidas por nós como fundamentais:
Refletir e descrever “aonde” quero chegar. Trabalhar com metas e anseios dos educandos, fazer que acreditem nós próprios sonhos;
Refletir e descrever “onde” e “como” me encontro. Na complexidade da vida e dos sentimentos fazê-los mergulhar no profundo do seu interior, tecendo uma análise do lugar onde cada um se encontra e como se encontra;
Refletir e descrever “o que” devo fazer. Estabelecer as metas e as ações necessárias para chegar aos objetivos traçados.
Essas reflexões são a base para estabelecer um questionamento que toque as seis dimensões que iremos utilizar na construção do projeto de vida.
Dimensão psicoafetiva: diz respeito a busca por equilíbrio na própria afetividade, aceitação de si, entender que somos frutos das relações que travamos cotidianamente;
Dimensão psicossocial: procura refletir sobre a forma como estabeleço relações com os que me rodeiam;
Dimensão Mística: plano transcendental, sentido da vida, no que acreditar, existe um plano de vida anterior a mim estabelecido por alguém (Deus)?
Dimensão sociopolítica-ecológica: é a participação e conscientização do meu envolvimento na sociedade e como sujeito na história, para torna-la cada vez mais humana, como me entendo enquanto ser inserido no ambiente;
Dimensão de capacitação: Procura refletir diretamente sobre meus sonhos profissionais e como estou me preparando para buscar atingir a realização de tais sonhos;
6º Dimensão construtiva: Trata-se de entender que a vida é movimento, que mesmo com um belo projeto de vida em mãos não posso esquecer que tudo está sujeito a transformação do meu desenvolvimento, os gostos e os sonhos variam ao longo da vida.

 

Educar o projeto de vida pra a Dignidade da Pessoa Humana


“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade. Dotados de razão e consciência devem agir uns para com os outros em espírito e fraternidade.” (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, de 1948, art1°)[2].
O primeiro artigo da declaração universal dos direitos humanos fornece a base sólida sobre a qual todos os demais princípios devem se apoiar, a dignidade de cada ser humano, independentemente de sua condição, todos naturalmente são iguais, nascem homens livres dotados de razão, não apenas racionalidade instrumentalizada mas consciência de sua própria condição, algo que ainda que não seja percebido nos primeiros instantes de vida pelo sujeito mas já notado pelos que o rodeiam. Desta forma o projeto de vida, além de se apoiar no que já foi fundamentado anteriormente, quer servir-se dessa solene declaração inicial para se sustentar.
Não obstante, sabemos que nem sempre a dignidade de cada pessoa foi encarada da forma como a concebemos agora, como a suma maioria dos conceitos humanos este também está exposto aos efeitos da evolução histórico-político-filosófica de cada tempo.  A concepção de dignidade da pessoa humana teve algumas mudanças passando por vários pensamentos e linhas filosóficas, um exemplo bem peculiar é o entendimento de dignidade grega, ela estava ligada diretamente a vida na polis, ali o homem passava a ser plenamente homem, por ser um animal político[3] ele só teria a dignidade enquanto pessoa quando estivesse plenamente inserido na dimensão política.
Na filosofia kantiana a dignidade humana não é um atributo divino, também não é uma conquista de quem exerce a política, e sim a capacidade racional e autônoma de cada um, dada por natureza. Essa racionalidade e a autonomia são o valor incomensurável da pessoa humana.

[...] no reino dos fins tudo tem um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode pôr-se em vez dela qualquer outra coisa como equivalente, mas quando uma coisa está acima de todo preço e portanto, não permite equivalente, então tem ela a dignidade (KANT, 1980)

O homem dotado de autonomia da vontade, pode não querer se subordinar a lei moral, porém a sua racionalidade o faz se sujeitar à lei. Visto que, sua autonomia é a capacidade de o motivar apenas pela razão.
Para Kant, o homem deve agir por dever mesmo que isso o faça excluir o seu amor-próprio. O homem deve ser educado e formado para o pleno exercício da sua razão, que o liberta para que suas ações sejam pautadas naquilo que o faz plenamente homem, ou seja, a razão capaz de o guiar a observância das leis. Por isso, a educação é o instrumento que desenvolve a liberdade da racionalidade e da moralidade que é a passagem do mundo sensível para o inteligível.
A educação é um processo de humanização, e tal processo faz com que o homem busque a perfeição. É fundamental ressaltar que é uma busca sempre inacabada, a consciência desse processo de busca continua ajuda a entender que cada elemento vivenciado é um fator que contribui para o aprendizado, o projeto de vida busca ressaltar a importância das experiências.
Por fim, faz-se necessário ressaltar a importância da aplicação desse projeto na fase escolar do ensino médio, uma vez que é nesse período que os horizontes se abrem para vislumbrar as mais diversas oportunidades da vida, é nesse ponto que a vida se modifica, é um ponto de delimitação entre a maturidade almejada na idade adulta e a idade da adolescência com seus inúmeros problemas e conflitos. Esse período da vida é uma busca constante por respostas, na suposição de que elas podem ser encontradas de uma só vez e definitivamente, o projeto de vida tem também por função ajudar os educandos a compreender que a vida é processo, que assim como a educação, só adquirimos uma coisa de cada vez. A maior das ambições com essa ideia é a de fazer com que se perceba que é preciso valorizar a própria vida e a vida dos semelhantes na busca constante da humanidade por respostas e felicidade, construindo cada vez mais a sociedade e a história onde nos inserimos.
















Metodologia
O projeto será aplicado aos alunos do 1º, 2º, e 3º anos ensino médio de uma escola privada na cidade de Lorena.
Os materiais utilizados serão folhas de sulfite, questionários, canetas, datashow, notebook e caixa de som.
Atividades:
1. Nome da atividade: A dignidade da pessoa em Kant .
Data: 12/10
Objetivos: Saber o que os alunos entendem ou pensam sobre o conceito de dignidade da pessoa.
Desenvolvimento: Será utilizado com os alunos do 1°, 2° e 3° ano do Ensino Médio.
Material didático: Datashow, notebook e caixa de som.
Resumo: A aplicação do questionário será feita com os alunos do 1°, 2° e 3° ano do Ensino Médio, na disciplina de filosofia. Os alunos em sala de aula, em círculo partilharão as suas experiências a partir da ótica das virtudes.
2. Nome da atividade:  Montagem do projeto de vida.
Data: 19/10
Objetivos: Descobrir a dignidade de cada a aluno e seus sonhos e desejos para o futuro.
Desenvolvimento: será utilizado os alunos do 1°, 2° e 3° ano do Ensino Médio.
Material didático: Datashow, notebook e folha de sulfite.
Resumo: como a montagem do projeto de vida de acordo com os questionários cada aluno.
3. Nome da atividade: Café filosófico. Devolutiva aos alunos sobre a aplicação do projeto.
Data: 26/10
Objetivos: Dar um “feedback” aos alunos sobre as respostas dadas ao questionário.
Desenvolvimento: Foi realizado com os alunos do 1°, 2° e 3° ano do Ensino Médio.
Material didático: Datashow e notebook.
Resumo: O resumo das respostas da aplicação do questionário foi apresentado aos alunos do 1°, 2° e 3° ano do Ensino Médio.

4. Nome da atividade: Apresentar na reunião pedagógica a devolutiva dos alunos quanto ao tema do questionário.
Data: 02/10
Objetivos: Levar ao conhecimento dos professores, o que os alunos pensam sobre A dignidade da pessoa humana na perspectiva Kantiana.
Desenvolvimento: Através da reunião pedagógica do colégio. Apresentação em PowerPoint em forma de gráficos.
Material didático: Datashow e notebook.
Resumo: Foi apresentada na reunião pedagógica, a devolutiva dos alunos quanto à aplicação do Projeto de Estágio.

 
















Referências
·         AMATUZZI, Mauro Martins et al. Estudos de Psicologia, v.19, n.2, (maio/ago.2002), p.5-16.
·         BENTHAM, Jeremy. Uma Introdução aos Princípios da Moral e da Legislação. Tradução Luiz João Baraúna. São Paulo: Editora Victor Civita, 1984.
·         Cadernos da EMARF, Fenomenologia e Direito, Rio de Janeiro, V.6, N.2, p 1-138, out. 2013/ mar 2014.
·         Carta Encíclica Laudato Si. Franciscus, Cita del Vaticano: Editriche Vaticana, 2015.
·         COMPARATO, Fabio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 3ed. – São Paulo: Saraiva, 2003. Op. Cit, p.23.
·         ­­­­­­­­­­­­­­­­­­Crítica da Razão Prática. Trad. Valério Rohden. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
·         DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, de 1948
·         GUIMARAES, Waldir. O conceito de dever em Kant. Fragmentos de cultura. v.12, n Especial, p.133-138, mar. 2002.
·         KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: Edições 70, 2007.
·         SOUZA, HJS. O problema da motivação moral em Kant [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 1980.
·         MILL, John Stuart. De la liberté. Trad. D. White. Paris: Gallimard, 1869.


[1] João Melchior Bosco (16 de agosto de 1815 – 31 de janeiro de 1888), nascido no reino do Piemonte, atual território italiano. Foi padre católico, fundador da sociedade de São Francisco de Sales (Salesianos de Dom Bosco), destacam-se, entre seus muitos feitos, suas práticas educativas, que em certo sentido inovaram a educação de sua época, fundada no princípio punitivo, João Bosco propõe uma educação pautada na intenção preventiva que vise abarcar o indivíduo em toda sua complexidade para além das costumeiros reducionismos a aspectos cientificistas ou religiosos, esse ideal está expresso em uma de suas célebres frases “Formar bons cristãos e honestos cidadãos”. Sua maior “glória” foi partir do princípio da totalidade da pessoa.
[2] A declaração universal dos direitos humanos foi criada para prevenir atos que sejam impetrados diretamente contra o direito basilar constituinte da pessoa humana. Após a segunda guerra mundial verificou-se que havia nascido um novo tipo de crime, aquele cometido contra a raça humana, para tal é feita uma nova lei, que vise exaltar a dignidade individual de cada um e, ao mesmo tempo, proteger aquilo que é patrimônio de todas as raças, a característica que denominamos humanidade.
[3] Essa era a definição de Aristóteles (384 a.c – 322 a.c) para o homem, um ser político “Zoon politikon” em seu entendimento a essência humana estava ligada a política, ou melhor, era a política, exercida unicamente na polis, portanto o homem só era realmente homem enquanto cidadão. 

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